Ser Pai
Queria dissertar um pouco sobre o papel de ser Pai, escrever algo que fosse bem aceite pela sociedade ou dentro dos parâmetros esteriótipados que normalmente é atribuído o papel paternal . Mas sempre fui de fugir às regras, tanto mais que considero que o papel de um Pai é muito mais do que um simples guião por alguém que provavelmente nunca foi Pai. E na teoria tudo é muito relativo, pois cada pai é um pai e sente de forma diferente essa honra que o universo lhe concedeu. Entenda-se por Pai, o homem com "tomates'' que assume um pequeno ser como sendo seu, mesmo que não seja seu filho biológico.
Foram inúmeras as vezes que já fui criticado por assumir esse papel, argumentando que não tinha essa obrigação... não tinha essa obrigação? Estamos a falar de um pequeno ser não de um carro ou telemóvel, estamos a falar de uma criança que tudo o que deseja é ser amada. Não importa se é biológico ou não, mas sim da nossa capacidade de amar, de darmos de nós, de fazermos a diferença pela positiva na vida de alguém.
Ser Pai por vezes é um valente murro no estômago, uma agonia sem fim, perante a impotência quanto tentamos a todo o custo que nada lhes falte mas a vida nos trai, é chorar no silêncio da noite na incerteza do amanhã, é abdicar de si mesmo apenas para poder ver um filho a sorrir.
Ser Pai é estar presente, é fazer um esforço para ver aquele jogo de futebol ou qualquer outra atividade, é assistir àquela festinha de fim de ano que eles tanto se empenharam, é não falhar a uma promessa, é ser porto de abrigo, é estar lá mesmo quando há motivos para estar zangado, é sentir um abraço ou de um xi-coração com a força que os seus ternos braços conseguem alcançar, é ouvir um gosto de ti e ficar com um nó no coração.
Costumo dizer que as prendas estragam-se, passam de moda, viram lembranças esquecidas, mas as vivências em conjunto, essas permanecem eternamente na memória. Um dia mais tarde, seja no secundário, na faculdade ou mesmo na vida adulta, naquelas conversas entre amigos ou quando forem questionados sobre os aniversários passados, os momentos marcantes, eles vão-se lembrar das pessoas presentes, das aventuras passadas, das histórias partilhadas.
Pessoalmente, tenho uma história de quatro filhos, lindos, amorosos, bem sucedidos. Tenho uma história de lutas titânicas, de percalços, de por vezes fazer o papel de pai e de mãe por força das circunstâncias, de uma aprendizagem e crescimento constante. Se os rapazes de alguma forma tornaram-se uma extensão de mim, as meninas trouxeram-me uma sensibilidade e delicadeza até aí inexistente.
Não deixa de ser curioso questionarem-me o facto de ter tantos filhos como se houvesse um padrão, uma questão de etiqueta. Lembro-me de estar com alguém especial juntamente com os seus filhos, e as pessoas olharem para nós com desdém, como se fossemos uma aberração, devido ao número de crianças que alegremente se divertiam.
Na realidade, isso pouco me afeta, costumo sorrir perante tamanha ignorância e sigo em frente. Sou das pessoas mais pacíficas do mundo, não me meto com ninguém, não chateio ninguém, levo a vida na base da paz e do amor, mas se mexerem com os meus filhos, viro literalmente o mundo do avesso.
Quanto a eles? Só quero que sejam felizes! Médicos? Empresários? Advogados? Jogadores da bola? Artistas? tanto faz! Se for essa a vocação, porque não! Podem seguir os sonhos aparentemente mais absurdos que eu irei sempre apoia-los, irei sempre estar presente, mesmo que a distância um dia nos separe. Sempre lhes dei a liberdade de escolherem o seu caminho, os seus gostos, as suas preferências. Porquê? Porque é a vida deles, não a minha, e eu sinto um orgulho quase absurdo do que os meus meninos/as que se tornaram!
Há pouco tempo a minha filha mais nova disse-me algo que deixou marcado:
- Papá, tu uma vez ajudaste uma senhora que estava magoada, não é verdade?
- sim filha, ajudei!
- isso é porque és boa pessoa!
- acho que sim filha
- por isso é que tens filhos que são boas pessoas, porque tu és boa pessoa e porque és um bom pai, e nós somos um bom exemplo!
- (eu de silêncio e de quase de lágrimas nos olhos)
Sei que um dia cada um trilhará o seu caminho. É a lei da vida! Assim como eu seguirei o meu caminho, sozinho ou com alguém especial, que tal como eu, terá que os amar, da mesma forma que amarei aqueles que surgirem na minha vida! É essa a minha natureza, é essa a minha essência!