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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Rapazinho de sorriso rasgado

11.02.21, MM

MM rapazinho de sorriso rasgado cópia.jpg

 

Chovia torrencialmente naquela tarde. O céu em tons de breu fazia lembrar os filmes apocalípticos, onde literalmente o dia parecia ter sido engolido por uma noite de trevas. Perante aquele acontecimento repentino, havia pessoas completamente aterrorizadas, deambulando de um lado para o outro, tentando encontrar um porto de abrigo, abrigando-se como podiam ou recolhendo-se às suas casas. 

No entanto, no meio daquele caos emergente, surgiu naquela rua quase inundada, um rapazinho de sorriso rasgado, abraçando cada gota caída do céu, como se fosse a maior de todas as dádivas. Os olhares de desdém e gozo por parte de quem assistia confortavelmente no recanto das suas casas, contrastavam com o regozijo puro daquele rapaz, que indiferente a tudo, saboreava a água da vida, deliciando-se em cada poça, rodopiando como se dançasse eloquentemente com uma amiga imaginária. Deslumbrava-se com as flores de garridas cores, tocando-lhes suavemente tal qual uma sensível borboleta, tentando sentir o seu aroma, a sua textura, abrigando-as da terrível tempestade. Gritava em plenos pulmões tentando rivalizar com o som ensurdecedor da chuva que caia violentamente. Mas ele não se importava, nem mesmo com os olhares incrédulos e de chacota, de que aproveitava para fotografar e filmar.

Indiferente a tudo, corria pela rua como se fosse o rei do mundo, o deus daquela tempestade, que lhe enchia a alma de alegria. 

Aos poucos a chuva foi abrandando. O céu já não parecia querer abater-se sobre a  terra, as trevas davam lentamente lugar a rasgos de claridade. Com a aproximação do reaparecimento do astro rei, as pessoas saíam dos seus abrigos e de suas casas, contemplando os estragos causados pela tempestade e comentando a reação daquele bizarro rapaz. 

Aquele rapazinho de sorriso rasgado, já não estava na rua, tinha regressado a casa. Observou muito a custo o surgir do arco-íris e trancou-se no seu refúgio, maravilhado com tudo aquilo que tinha experienciado, que o tinha deixado completamente extasiado e de coração cheio de alegria. Mesmo em condições extremamente adversas, foi a melhor experiência que teve em toda a sua vida, guardando cada fragmento de imagem retidos pelos seus frágeis olhos. Não costumava ter grandes oportunidades de sair de casa, sofria de sensibilidade à luz...

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