Perdida na minha escrita
Perdes-te nas entrelinhas da minha escrita
Absorvendo carnalmente tudo que nela habita
Demónios projetados da minha alma vagabunda
Que no teu íntimo penetram de forma profunda
E tu, rendida, entregas-te voluptuosamente
Aos braços de quem agarra firmemente
Letras que te tocam em tons silábicos
Melodias em palavras encantadas no teu ser
Dedos mágicos provocando arrepios de prazer
E tu, perdida,
Tentas fugir de um verso inacabado
Mas não consegues, preferes viver o pecado
Mais uma frase que agarras com firmeza, destreza
Contorcionismos numa respiração ofegante
Já não sou poeta, sou o teu amante
Que em ti faz o abecedário todo vibrar
Palavras malditas que bem fundo as queres enterrar
Mais um pouco
Mais rápido… a soletrar
Tons agudos, tons graves, está quase a terminar
Pára, não pares, e mais um conjunto de interjeições
Loucuras, ternuras, corpo a estremecer
Palavras que entram e saem do centro do prazer
Estás no auge e já não há nada a fazer
Delírios impercetíveis de sensações orgásmicas
Prenuncias sons em letras asmáticas
Até ao êxtase final, animal
Pausas no silêncio sufocante
Sossegas a respiração ofegante
Extasiada com o que acabaste de ler
Pousas o poema serenamente
E, satizfeita, acabas por adormecer