Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

O banho

29.07.21, MM

banho cópia.jpg

 

Chego a casa quase moribundo, de semblante pesado, reflexo de um dia cansativo. O calor abrasador de fim de tarde sufoca o todo o meu corpo, todo o meu ser. Sinto uma necessidade urgente de sentir a água a cair em cima do meu corpo desnudado. Abro a torneira do chuveiro como quem abre a fonte da vida. Vou despindo a roupa colada ao corpo como quem despe a alma, peça a peça, lentamente, ao som harmonioso da água a cair, a chamar por mim, desejando percorrer o meu corpo suado, cansado. Entro lentamente e coloco à disposição da água todo meu corpo, completamente nu. A água, não se fazendo de rogada, invade o meu corpo, percorrendo apressadamente cada centímetro da minha pele, sem dó, sem piedade, cobrindo-a e deixando-a completamente molhada. Deixo de sentir o meu corpo, todo ele perdido numa névoa densa e perfumada. Fecho os olhos e liberto a minha mente de tudo o que é penoso, fatigante, crostas de ansiedades acumuladas, de dúvidas e incertezas, cicatrizes profundas de batalhas vencidas. Deixo a água correr livremente em mim, retirando tudo o que não me transporta para a frente. Pouco a pouco vou sentindo a alma leve, límpida, reluzente. Entro em estado de transe hipnótico, despertando sentidos adormecidos, desejos carnais, emergentes, intensos, como se cada gota de água despertasse em mim desejos eloquentes, instintos primários. Todo o meu corpo reage em uníssono, e até o meu toque provoca sensações indescritíveis, quase transcendentais. Sinto cada gota de água como se fosse um toque teu, num desejo profundo de me possuíres, de encerrar em mim também esse teu desejo secreto. Sinto os teus dedos nos meus dedos e neles percorro o meu corpo sedento de prazer, do teu prazer. Deixo a água apoderar-se dos meus lábios, beijos teus, quentes, ardentes, voluptuosos, que libidinosamente deixam os meus lábios e exploram todo o meu corpo. Não quero que pares e eu não paro, continuo, quero dar-te prazer, a ti, só a ti, sentir-te até ao último fôlego ofegante de desejo, até ao último estremecer, até eu estar em ti e tu em mim e os gritos serem mais audíveis que o som da água a cair sobre o meu corpo, hirto, carregado de desejos proibidos. 

Caio extasiado sobre a água amontoada. A densa névoa desvanece. Estou só, mas ainda sinto o teu corpo colado ao meu e deixo-me ficar mais um bocado, sentindo a água que lava a minha alma. Por fim, a tua imagem desvanece, como se de um sonho despertasse. Passo pelo estado de vigília, sem saber se eras real. Por fim já refeito, reergo-me de sorriso nos lábios, leve, livre, confiante, inspirado. 

E se hoje aparecesses para jantar? Afinal, eu sou um ótimo cozinheiro, quem sabe não te conquisto pelo estômago!

9 comentários

Comentar post