Floresta encantada
Ouso percorrer os trilhos da floresta encantada em busca da minha musa de inspiração. Ouço o palrar dos pássaros que cochicham sobre histórias de velhas alcoviteiras e dos velhos do Restelo, que infelizes com os seus amores, amaldiçoaram e profanaram aquele lugar, e todos aqueles que acreditam no verdadeiro amor. Mas a floresta encantada é um lugar sagrado, protegido por árvores centenárias conhecedoras dos segredos universais, braços estendidos que se abraçam em plena harmonia, abençoando os eternos amantes. No seu solo fértil abundam sentimentos de amor, de ternura, de cumplicidade, de carinho, de paixão, envolvências de desejos de apaixonantes beijos, de jogos de sedução, olhares que se cruzam, que se casam, que se encadeiam, que se encaixam nas noites de luar, tal como as corujas se tornam donas daquele lugar. Os cursos de água filtram as impurezas dos pensamentos negativos e libertam aromas hipnóticos que trazem felicidade e sensação de leveza ímpar a quem ali passa. Entre as árvores, surgem clareiras que permitem absorver a luz e a energia emanada pelo sol, despertando o fogo ardente aprisionado nas manhãs frias de inverno. Num charco ouço o coaxar das enigmáticas rãs que parecem falar alegremente em código, mas que não consigo decifrar. Fecho os olhos e deixo a natureza interiorizar-se dentro de mim, do meu ser, da minha alma, do meu coração, sem no entanto compreender a sua razão. Sou transportado numa viagem às origens, onde tudo era puro e límpido, onde éramos apenas seres de luz, espalhando a magia que habita dentro de nós. Regresso a mim do estado hipnótico e prossigo o meu caminho por entre as pedras centenárias, testemunhas de muitas confidências e lamentos, mas que também já foram cúmplices e das mais lindas histórias de amor. Quase a atravessar a fronteira para o mundo mundano, uma suave brisa sussurra-me ao ouvido. Percebi finalmente que toda a floresta encantada falava sobre ti, e que afinal, fui eu que a encantei!