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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Insanidades

06.04.24, MM

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Acordo estremunhado ao som da chuva que cai copiosamente. Forço novamente o sono mas a espertina já se tinha instalado. No meu pensamento apenas surge a tua imagem e o meu desejo de te ter aqui. Dou voltas na cama como se procurasse o calor do teu corpo, como quem procura a serenidade de um abraço aconchegante, daquele beijo carinhoso. O barulho de um carro a trabalhar na rua interrompe os meus pensamentos e questiono-me que horas serão. Seis da manhã e já há quase uma hora que me embrulho contigo nos meus pensamentos. O trabalhar barulhento e constante daquele carro, faz-me viajar pelos momentos que estivemos juntos, dos sorrisos que te provoquei com a minha falta de jeito para seduzir, dos momentos em que nos abraçámos, mas principalmente, das vezes que te devia ter beijado, e que por falta de coragem, não te beijei.

O carro arrancou, a chuva já não cai, o silêncio imperou. Regresso novamente à minha realidade solitária, um corpo moribundo numa alma à espera de ser conectada, a ti, ao teu ser, à tua essência. A chuva regressa espaçadamente ao compasso de um relógio louco. Tento escrever algo para ti, mas as palavras não fluem, não saem,  parecem aprisionadas à espera do momento certo para serem espressadas. Apenas os pensamentos libidinosos da tua presença  permanecem intactos, adensando cada vez mais o meu desejo de te tocar, de percorrer como os meus lábios cada centímetro do teu corpo, de descobrir os gatilhos que fazem a tua pele arrepiar, de penetrar nos teus recônditos mistérios, de tornar a tua respiração ofegante, de te fazer sentir amada, desejada, extasiada. 

Pudesse eu materializar os pensamentos e estarias aqui, agora, neste momento, nós dois numa dança corporal intensa, em desejos quase insanos de nos possuirmos, de nos fundirmos num único corpo, numa única alma, fazendo parar o tempo e por momentos, todo o universo conspirava, a lua corava, o coração disparava, o êxtase final acontecia numa cama molhada, em corpos suados, saciados por fluidos trocados.

A chuva parou, o despertador tocou, o sonho acabou… talvez seja apenas um sonho meu, talvez seja um desejo que para ti nunca aconteceu…

Escrevo-te mais uma mensagem, mais uma declaração de amor, mas como aconteceu em todas as outras vezes, não tenho coragem de te as enviar…

Levanto-me, tomo um banho rápido como que sacode a poeira da insanidade. Tomo o meu chá de ervas misteriosas que me fazem despertar enquanto observo a alvorada que nunca mais chega. Inspiro, respiro e saio para mais uma manhã de trabalho. O meu fim de semana aproxima-se, mas no horizonte apenas vejo as nuvens da saudade, de não te ter aqui, ao pé de mim. E enquanto conduzo até ao meu destino, penso no paradoxo desta minha vida insana, em tu és das coisas mais reais que tenho, e no entanto, és apenas uma utopia…

Palavras perdidas

01.04.24, MM

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Escrevo nas entrelinhas da alma

Sentimentos oriundos do coração

E como um bom vinho que se degusta com calma

Doo o corpo à liberdade

Serenidade, libidinosidade

Aromas despertados ao sabor da paixão

Numa noite ao luar

Numa cama feita de areia do mar

 

Deixo fluir a tinta em papiros encantados

Sílabas estonteantes em corpos enfeitiçados

Eloquências perdidas no teu terno olhar

Que um dia me fez encantar

Sonho adormecido perdido no teu sorriso

Fazendo a minha pele arrepiar

E no meu inferno, surgiu o paraíso

 

E assim vou escrevendo palavras ao vento

Entrelaçadas nos teus cabelos esvoaçantes

Mas no degustar do copo de vinho, projeto o meu lamento

De não te ter aqui, ao pé de mim

Fazendo amor num qualquer camarim

Feito de personagens imaginadas em estrelas brilhantes

Que se amam

Que se tocam

Que se fundem só com um olhar

Corpos dançantes até a noite terminar

Mas o vinho acabou, findou

E as palavras escritas? Essas, ficaram eternamente perdidas

Aprisionadas na miragem de uma noite de luar...