Podia ter sido um Natal como outro qualquer... mas este foi especial...
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Mariana era uma menina de 6 anos que tinha ido pela primeira vez para a escola e, como era muito tímida, não tinha feito grandes amigos. Vivia com João, o seu irmão mais velho e seus pais, André e Sónia. Mas estes tinham empregos muito importantes e pouco brincavam com os filhos. João não se importava, já que passava muito tempo a jogar consola.
Os natais costumavam ser passados na sua casa ou em casa da família de Mãe, já que eram de famílias ricas. Mas este ano seria diferente. Pela primeira vez desde que Mariana nasceu, iam passar em casa dos avós paternos, que viviam numa aldeia bem no interior e longe da grande cidade. O motivo é que eles estavam um pouco doentes...
A viagem fora longa e já era noite quando chegaram à aldeia. A casa era antiga e ainda construida em pedra. Lá dentro, estavam os avós à lareira que se levantaram com algum custo para os receberem de braços abertos. O jantar já se encontrava pronto e começaram logo a comer. Mariana, sem grande fome, olhava encantada para as peças artesanais que decoravam as mobílias, A seguir ao jantar, Mariana estava tão cansada que adormeceu logo, bem enrolada nos cobertores.
Na manha seguinte Mariana acordou cedo, desceu as escadas e viu o avô, que por entre os seus pensamentos tomava o pequeno almoço à lareira. Juntou-se a ele e enquanto comia, o avô contava-lhe histórias do pai dela quando era mais novo, e recordava com nostalgia: "André era um bom menino mas muito traquina!" Depois de já todos terem tomado o pequeno almoço os pais decidiram ir à vila fazer as ultimas compras, mas Mariana preferiu ficar com o avós que lhe tinham prometido dar uma volta pela aldeia. Assim que saíram cruzam-se com Leandro, um rapaz da mesma idade que se ofereceu para mostrar a aldeia. Após consentimento dos avós os dois seguem pelas ruas da aldeia, primeiro timidamente mas depois começam a correr e a brincar. Estava muito frio e de repente começou a nevar. Mariana nunca tinha visto neve e ficou um pouco assustada, mas rapidamente ficou tão feliz e maravilhada que se abraçou a Leandro, e os dois começaram a andar à roda. Faziam pequenas bolas de neve e começaram a atirar um ao outro. Estavam tão distraídos que nem reparam na presença do avô, que se desatou a rir ao ver que eles se tinham assustado.
Foram para casa e nessa altura chegaram os tios e os primos para o almoço. A azafama era grande e quando acabaram de almoçar, o irmão e os primos entretiveram-se a jogar nos tabletes. Mariana não parava de olhar pela janela até que viu Leandro e foi pedir para ir lá para fora. A mãe disse que não, mesmo perante a insistência dos avós. Mariana já muito triste virou-se para o pai e disse lhe " pensei que tinhas sido feliz aqui" aos que os avós lhe responderam " e foi muito feliz, mas pelos vistos já se esqueceu disso". André levantou-se e mesmo contrariando Sónia, agasalhou a pequena Mariana e disse-lhe para se ir divertir.
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Saiu a correr e foi ter com Leandro dando um grande abraço e seguiram para onde havia mais neve. Fizeram muitos bonecos com a neve, tiraram fotografias com o telemóvel de Mariana, rebolavam e corriam até já não aguentarem mais. Quando começou a escurecer, foram para suas casas, mas antes de se separarem, Leandro tirou de dentro do casaco uma boneca de trapos e ofereceu a Mariana, dizendo-lhe que era a sua mãe que as fazia e que tinha achado aquela a mais bonita. Os olhos dela brilharam ainda mais, deu-lhe um beijo na face e disse-lhe que a boneca era lindíssima. Regressou feliz para casa e algum tempo depois de jantar, chegou finalmente o pai natal. Havia montes de prendas e muitas para Mariana, desde casa de bonecas, roupa, livros, bolsas e até um novo telemóvel. Mas enquanto todos experimentavam as novas prendas, Mariana passeava e imaginava novas histórias com a sua nova boneca de trapos. E na hora de dormir, adormeceu agarrada a ela.
Amanheceu com um grande nevão. Mesmo assim Mariana queria ir visitar o seu amigo. O avô pediu-lhe para levar um bolo rei e alguns doces que tinham muita comida. O pai ofereceu-se para acompanhar Mariana e chegando lá acabaram por entrar. Mariana foi brincar com Leandro para o quarto e contou-lhe radiante como tinha sido a sua noite de natal. Leandro disse-lhe que só tinha recebido uma camisola e um carrinho, porque o pai natal estava muito pobrezinho. Contou depois que o seu pai estava desempregado e mãe fazia algumas bonecas para vender e as vezes os dois faziam algumas limpezas na vila. Mariana ficou ainda mais triste ao saber que nem sequer tinham tido um bolo rei.
Quando o pai a chamou, Mariana desceu triste e foi o caminho todo calada. No hora de almoço não conseguia comer e quando perguntaram porque não comia começou a chorar. " sabiam que os pais do Leandro não têm nada para comer? Sabiam que o pai está desempregado?". O avô acabou por contar que eles tiveram azar porque a fabrica onde trabalham fechou e que não tiveram direito a nada. Mas que também não sabia que a situação era tão grave. Mariana não parava de chorar e acabou por sair da mesa. O pai seguiu-a e foi falar com ela. " Se pudesses voltar a pedir alguma coisa ao pai natal o que pedias? Mariana olhou nos olhos do pai e disse-lhe "trocava todas as minhas prendas só para que o Leandro pudesse ter um natal feliz". O pai pensou um pouco e disse-lhe firmemente que desejasse muito para que o seu pedido se realizasse e que o natal ainda não tinha acabado. Pediu a Mariana para ir para a mesa e dizer que também já iria.
Na manha seguinte era o dia de regressarem. Mariana não queria voltar. Tinha feito o seu primeiro amigo de verdade. Queria dar-lhe alguma coisas. O pai sugeriu que lhe oferecesse o seu telemóvel antigo que ainda estava em bom estado. Assim podiam falar mais vezes. Mariana abraçou forte o pai.
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Estavam quase a ir embora quando finalmente apareceu Leandro eufórico. "o meu pai arranjou trabalho! o meu pai arranjou trabalho!" Naquele momento Mariana acreditou na magia do natal. Ofereceu-lhe o telemóvel e depois disso, olharam-se nos olhos e abraçaram-se e com os olhos a chorar se despediram sem dizer uma única palavra. Leandro correu atrás do carro até não ter mais forças enquanto Mariana encostava a mão no vidro de trás desistindo apenas muito depois de o deixar de ver.
Mariana saiu da aldeia de coração cheio e embora se sentisse triste por se ter separado de Leandro, tinha a certeza que tinha recebido a melhor prenda de todas: um amigo para toda a vida e aquela boneca de trapos iria ser para sempre a sua melhor recordação!
Vitoria, vitória, acabou-se a historia!
(Escrito no Natal de 2017 com desenhos da minha filha mais velha, na altura com 6/7anos!)
Que o espírito do Natal ilumine todos os corações. Boas Festas!