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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

No meu canto

29.12.23, MM

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E no meu canto eu canto o encanto que me fez encantar

Sou força de um tornado embalado na brisa do mar

Que um dia se perdeu no teu olhar

Terno, meigo, sedutor

Que á primeira vista se tornou amor

 

E no meu canto eu planto as sementes que se querem enraizar

Fruto proibido que um dia ousei amar

Toque no rosto, suspiro, pele a arrepiar

Corpo ardente, quente

Ensejos dos teus lábios beijar

 

E eu no meu canto suspiro, deliro, uivo ao luar

Agradeço em verso ao universo que me fez te encontrar

Estrela da manhã, insónia delirante que me faz sonhar

E eu, feito menino perdido no teu terno olhar

De quem um dia teve a ousadia de te amar 

Um pequeno conto de Natal

23.12.23, MM
Podia ter sido um Natal como outro qualquer... mas este foi especial...
 
Mariana era uma menina de 6 anos que tinha ido pela primeira vez para a escola e, como era muito tímida, não tinha feito grandes amigos. Vivia com João, o seu irmão mais velho e seus pais, André e Sónia. Mas estes tinham empregos muito importantes e pouco brincavam com os filhos. João não se importava, já que passava muito tempo a jogar consola.
 
Os natais costumavam ser passados na sua casa ou em casa da família de Mãe, já que eram de famílias ricas. Mas este ano seria diferente. Pela primeira vez desde que Mariana nasceu, iam passar em casa dos avós paternos, que viviam numa aldeia bem no interior e longe da grande cidade. O motivo é que eles estavam um pouco doentes...
 
A viagem fora longa e já era noite quando chegaram à aldeia. A casa era antiga e ainda construida em pedra. Lá dentro, estavam os avós à lareira que se levantaram com algum custo para os receberem de braços abertos. O jantar já se encontrava pronto e começaram logo a comer. Mariana, sem grande fome, olhava encantada para as peças artesanais que decoravam as mobílias,  A seguir ao jantar, Mariana estava tão cansada que adormeceu logo, bem enrolada nos cobertores.
 
Na manha seguinte Mariana acordou cedo, desceu as escadas e viu o avô, que por entre os seus pensamentos tomava o pequeno almoço à lareira. Juntou-se a ele e enquanto comia, o avô contava-lhe histórias do pai dela quando era mais novo, e recordava com nostalgia: "André era um bom menino mas muito traquina!" Depois de já todos terem tomado o pequeno almoço os pais decidiram ir à vila fazer as ultimas compras, mas Mariana preferiu ficar com o avós que lhe tinham prometido dar uma volta pela aldeia. Assim que saíram cruzam-se com Leandro, um rapaz da mesma idade que se ofereceu para mostrar a aldeia. Após consentimento dos avós os dois seguem pelas ruas da aldeia, primeiro timidamente mas depois começam a correr e a brincar. Estava muito frio e de repente começou a nevar. Mariana nunca tinha visto neve e ficou um pouco assustada, mas rapidamente ficou tão feliz e maravilhada que se abraçou a Leandro, e os dois começaram a andar à roda. Faziam pequenas bolas de neve e começaram a atirar um ao outro. Estavam tão distraídos que nem reparam na presença do avô, que se desatou a rir ao ver que eles se tinham assustado.
 
Foram para casa e nessa altura chegaram os tios e os primos para o almoço. A azafama era grande e quando acabaram de almoçar, o irmão e os primos entretiveram-se a jogar nos tabletes. Mariana não parava de olhar pela janela até que viu Leandro e foi pedir para ir lá para fora. A mãe  disse que não, mesmo perante a insistência dos avós. Mariana já muito triste virou-se para o pai e disse lhe " pensei que tinhas sido feliz aqui" aos que os avós lhe responderam " e foi muito feliz, mas pelos vistos já se esqueceu disso". André levantou-se e mesmo contrariando Sónia, agasalhou a pequena Mariana e disse-lhe para se ir divertir.
 
Saiu a correr e foi ter com Leandro dando um grande abraço e seguiram para onde havia mais neve. Fizeram muitos bonecos com a neve, tiraram fotografias com o telemóvel de Mariana, rebolavam e corriam até já não aguentarem mais. Quando começou a escurecer, foram para suas casas, mas antes de se separarem, Leandro tirou de dentro do casaco uma boneca de trapos e ofereceu a Mariana, dizendo-lhe que era a sua mãe que as fazia e que tinha achado aquela a mais bonita. Os olhos dela brilharam ainda mais, deu-lhe um beijo na face e disse-lhe que a boneca era lindíssima. Regressou feliz para casa e algum tempo depois de jantar, chegou finalmente o pai natal. Havia montes de prendas e muitas para Mariana, desde casa de bonecas, roupa, livros, bolsas e até um novo telemóvel. Mas enquanto todos experimentavam as novas prendas, Mariana passeava e imaginava novas histórias com a sua nova boneca de trapos. E na hora de dormir, adormeceu agarrada a ela.
 
Amanheceu com um grande nevão. Mesmo assim Mariana queria ir visitar o seu amigo. O avô pediu-lhe para levar um bolo rei e alguns doces que tinham muita comida. O pai ofereceu-se para acompanhar Mariana e chegando lá acabaram por entrar. Mariana foi brincar com Leandro para o quarto e contou-lhe radiante como tinha sido a sua noite de natal. Leandro disse-lhe que só tinha recebido uma camisola e um carrinho, porque o pai natal estava muito pobrezinho. Contou depois que o seu pai estava desempregado e mãe fazia algumas bonecas para vender e as vezes os dois faziam algumas limpezas na vila. Mariana ficou ainda mais triste ao saber que nem sequer tinham tido um bolo rei.
Quando o pai a chamou, Mariana desceu triste e foi o caminho todo calada. No hora de almoço não conseguia comer e quando perguntaram porque não comia começou a chorar. " sabiam que os pais do Leandro não têm nada para comer? Sabiam que o pai está desempregado?". O avô acabou por contar que eles tiveram azar porque a fabrica onde trabalham fechou e que não tiveram direito a nada. Mas que também não sabia que a situação era tão grave. Mariana não parava de chorar e acabou por sair da mesa. O pai seguiu-a  e foi falar com ela. " Se pudesses voltar a pedir alguma coisa ao pai natal o que pedias? Mariana olhou nos olhos do pai e disse-lhe "trocava todas as minhas prendas só para que o Leandro pudesse ter um natal feliz". O pai pensou um pouco e disse-lhe firmemente que desejasse muito para que o seu pedido se realizasse e que o natal ainda não tinha acabado. Pediu a Mariana para ir para a mesa e dizer que também já iria.
 
Na manha seguinte era o dia de regressarem. Mariana não queria voltar. Tinha feito o seu primeiro amigo de verdade. Queria dar-lhe alguma coisas. O pai sugeriu que lhe oferecesse o seu telemóvel antigo que ainda estava em bom estado. Assim podiam falar mais vezes. Mariana abraçou forte o pai.
 
Estavam quase a ir embora quando finalmente apareceu Leandro eufórico. "o meu pai arranjou trabalho! o meu pai arranjou trabalho!" Naquele momento Mariana acreditou na magia do natal. Ofereceu-lhe o telemóvel e depois disso, olharam-se nos olhos e abraçaram-se e com os olhos a chorar se despediram sem dizer uma única palavra. Leandro correu atrás do carro até não ter mais forças enquanto Mariana encostava a mão no vidro de trás desistindo apenas muito depois de o deixar de ver.
 
Mariana saiu da aldeia de coração cheio e embora se sentisse triste por se ter separado de Leandro, tinha a certeza que tinha recebido a melhor prenda de todas: um amigo para toda a vida e aquela boneca de trapos iria ser para sempre a sua melhor recordação!
 
Vitoria, vitória, acabou-se a historia!
 
(Escrito no Natal de 2017 com desenhos da minha filha mais velha, na altura com 6/7anos!)
 
 
 
 


Que o espírito do Natal ilumine todos os corações. Boas Festas!

Ficarei...

14.12.23, MM

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Voltarei sempre nas noites de luar

Alumiando por entre as trevas o teu caminho

Luminescências cintilantes quando te vais deitar

Viagem pelo mundo dos sonhos em tons de azul-marinho

 

Regressarei sempre no chilrear dos pássaros cantantes

Absorvendo as tuas lágrimas caídas em lençóis dormentes

Choros sufocados de um amor ausente

Vida sofrida por quem não está presente

 

Reaparecerei nas noites frias de inverno

Quando os cobertores forem insuficientes 

Serei o aconchego que apazigua o teu inferno

Candeia iluminada por brasas ardentes 

 

Serei matéria, serei pensamento

Serei força de vontade, serei saudade

Serei fogo, serei paixão

Serei arrepio, serei batimentos do coração

Serei beijo, serei desejo

Tudo serei…

Se me deixares ser

Versos de uma canção

Acordes de prazer

Sinfonia embalada na tentação

De te querer

De me queres

E se tu quiseres

Para sempre ficarei…

Murais

11.12.23, MM

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Eu queria encontrar

O amor em todas as avenidas

Porque os corpos já só se deleitaram

Embriagados na voz rouca dos ardinas

Já não há mais sedução

Para conquistar um coração

Vale o ouro da glória

Vendido á tentação

Mas isso é uma outra história

Que já ninguém quer contar

Vivem do amor escrito em murais

Partilhado exaustivamente em redes sociais

 

Eu queria viver

Um amor como nos contos de fadas

Mas “fadar” virou esquema

De qualquer pessoa pouco amada

E quem não entra no sistema

Vira carne para canhão

Porque ficou difícil amar

A quem decide dar o coração

E quem ousa assim viver a paixão

Fica fora da equação

 

Eu queria acreditar

Nas histórias do “para sempre”

Mas “para sempre” virou lugar

De gente eloquente

E caindo em desgraça

Viraram pessoas sem graça

Assassinaram o romantismo

Comercializaram o erotismo

O amor ficou enclausurado

Numa caixa de Pandora, fechado

Sem poder ser falado

Sem poder ser chorado

Hoje é apenas uma ilusão

Escrito em murais

Partilhado exaustivamente em redes sociais

Meu poema

03.12.23, MM

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Vem descansar no meu poema

Feito de flores e colibris

Perfume de colo e alfazema

Onde a vida é mais que um teorema

Repouso aconchegante onde sempre sorris

 

Vem mergulhar no meu poema

Águas límpidas onde podes ser tu própria

Absorver todas as palavras em tua glória

Reescrever a tua história

De alma nua

Até tornares a estrada tua

 

Vem embriagar-te no meu poema

Sílabas tontas e delirantes

Contornos de linhas que te fazem sentir mulher

E no jogo do bem-me-quer, mal-me-quer

Mudas o poema em metáforas estonteantes

 

Vem fazer do meu, o teu poema

Absorver dos meus lábios as palavras de amor

Consoantes e vogais dançando alegremente

E eu desejando secretamente 

Que faças do agora teu, o meu poema 

O nosso lar, um lugar acolhedor