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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Amor e poesia

22.03.23, MM

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Dizem que há um dia para a poesia

Mas poemas eu não sei escrever

São sílabas esvoaçantes roçando a heresia

Palavras que não ouso te dizer

 

Queria sentir a minha poesia a correr dentro de ti

Vogais projectadas em fonéticas arrepiantes

Prosas líricas em semânticas estonteantes

Percorridas nas linhas do teu corpo suado

Curvas onde queria me perder extasiado

Mas falta-me a métrica para te conquistar

Decassílabos, monossílabos

Emparelhadas, alternadas

Mas afinal quem quer saber

Quando o corpo implora por prazer?

E o coração? Já perdeu a razão

Delirando em palavras de pura paixão

 

Queria escrever-te o mais lindo poema de amor

Inspirado nos teus olhos ternurentos

Mas que sou eu se me perco em encantamentos

Palavras escritas projetando sentimentos

Que não tenho coragem de as proferir

E já só desejava nos meus lábios os teus sentir

Aromas profundos que num beijo apaixonante

Mas apenas escrevo poesias carregadas de dor

Ilusões escritas em melódicas canções

Ousando rimar o pôr do sol numa noite de luar

E no fundo, só queria fazer amor contigo à beira mar

E num poema eternizar o que é amar

Mas nem tão pouco sei rimar

Não sou poeta

Não tenho o dom de encantar…

Primavera!

21.03.23, MM

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Soam os rufos dos tambores celestiais 

Abrem-se as alas aos ventos renascentes

Brisas quentes trazendo coloridos ancestrais

Brinda-se à chegada dos pássaros valentes

 

Frenesim de quem fecha os olhos e sente no coração

Esperanças renascidas cultivadas na terra nua

Noites amenas despertando a paixão

Uivos ecoados honrando a sedutora lua

 

Alegram-se os dias, toldam-se as vontades

Roupas caindo brindando à liberdade

Brotam da terra aromas emaranhados em leviandades 

Libertam-se os corpos da ingénua puberdade

 

Cochicham os pássaros sobre as coisas do amor

Pelos campos alguém colhe e oferece uma flor

Coloridos hipnóticos em sensações penetrantes

Desejos ardentes daqueles que ousam tornar-se amantes

 

Dizem que o amor já anda no ar

Sentimentos despertados em borboletas esvoaçantes

Hormonas perdidas em sonhos de encantar

Bem-vinda Primavera! Exclamam os pássaros cantantes

Equilíbrio

16.03.23, MM

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Vamos aos poucos perdendo o equilíbrio da vida. Quando nos perguntam se estamos bem, está supostamente predefinido dizer que sim, porque é isso que as outras pessoas esperam ouvir, de forma a que cada um possa prosseguir o seu caminho, sem aquele constrangimento de não ter tempo para ouvir os dramas e os dilemas de outra pessoas, tanto mais, que todos nós já carregamos a nossa cruz. Mas muitas vezes aquele "estou bem" é o primeiro grito de um apelo mudo mas desesperado à espera que alguém o ouça, que saiba ler nas entrelinhas. Prosseguimos como se nada fosse e diariamente repetimos as mesmas ações, as mesmas palavras. Chegados a um ponto de exaustão, já não queremos que nos leiam os pensamentos e muitos menos os tormentos que insistem em fustigar a alma, fustigar o coração. Os simples obstáculos passam a imensuráveis e os sonhos passam a utopias, quimeras que se desvanecem dia após dia. Já somos corpos sem alma, vagueando pelo quotidiano,  sem a alegria das pequenas coisas da vida, sem o deslumbramento dos pequenos gestos, em olhares que  já não seduzem, não deslumbram, em toques que já não fazem estremecer quem quer que seja. Entramos em piloto automático e sorrimos em frases pré feitas e politicamente corretas. A apatia toma conta de nós numa autoconfiança totalmente desmoronada. Já não dizemos bom dia à vizinha que está à janela, já não nos baixamos para apanhar a bengala de uma senhora idosa, já não ajudamos uma criança a atravessar a estrada. Passamos a ser meras personagens de um qualquer jogo à espera de indicações que nos façam mover, sem qualquer livre arbítrio, sem iniciativa, sem sonhos, sem esperanças, sem amor… até que nos tornamos invisíveis, meras recordações perpetuadas nos velhos anuários da escola ou lembrança de um qualquer arquivo dos recursos humanos.

Lembram-se de como tudo começou? A verdade nua e crua, é que nem sempre estamos bem, nem sempre encontramos em nós forças suficientes que nos permitam enfrentar as vicissitudes da vida. A aparência é apenas isso e somos seres influenciados por um conjunto de fatores sociais, emocionais, profissionais. Muitas vezes não conseguimos lidar com os nossos fantasmas interiores, com decisões tomadas no passado, lidar com a dor do arrependimento ou com a ansiedade do que possa acontecer. E mesmo rodeados de centenas de pessoas, nenhuma parece demonstrar a mínima empatia, antes pelo contrário,  sentimos na pele a pressão da sociedade e recusamos dar aquele firme passo de seguir em frente, de conquistar a liberdade e a felicidade. Lembram-se de como tudo acabou? Numa mera recordação esquecida no tempo, lembrança vaga que um dia existiu alguém que preenchia aquele lugar mas que já nem nos lembramos bem quem. E eu pergunto-me: vale a pena acabar assim?

E entre quando tudo começa e tudo acaba, podemos e devemos fazer toda a diferença, quer na nossa vida, quer impedindo que outras pessoas caiam no espectro da invisibilidade. Por vezes a vida vira-nos do avesso e acordamos, outras vezes surgem anjos na nossa vida que com simples palavras despertam o melhor que há em nós e há ainda pessoas que têm o dom de incendiar de tal forma a nossa vida, que renascemos das cinzas, erguemos-nos e recuperamos o equilíbrio da vida, vivendo a vida como sempre a deveríamos ter vivido. 

A frase que mais repito para todos e principalmente para mim mesmo é: Nunca é tarde para recomeçarmos, nunca é tarde para sermos felizes, e sobretudo acreditar sempre, que o melhor ainda está para vir!

Era uma vez...

12.03.23, MM

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Esta é a minha história

Sem Pedro e sem Inês 

Trágico-comédia

Sem era uma vez

Ele era Miguel

Ela era Maria

Mas o amor que acontecera

Esmoreceu um dia

Mundo desmoronado

Num manto de ilusão

E numa vida construída

Viu fugir o seu chão 

Mas a vida continuou

Mesmo que atormentado

Renascido das cinzas 

Quando o coração despertou

Ele era Miguel

Ela tinha nome de flor

Que nos nos seus singelos campos

Fez renascer um novo amor

Um amor impossível

Como de Pedro e Inês

Difícil de esquecer

Contrariando a sensatez 

E perdido na sua timidez

Sem a ousadia de se declarar

Deixou fugir o amor 

Sem nunca saber o que era amar

E mais uma vez

Apenas ficou mais uma dor

Mas a vida continuou

Mesmo que atormentado

Renascido da cinzas

Por aquele olhar hipnotizado

Ele era Miguel

Ela de olhos cor de mel

E o que parecia amor

Apenas virou fel

E assim continuou, Miguel

Renascido das cinzas

Embalado em amores impossíveis

Paixões indisponíveis

Ele era Miguel

Ela de outro universo

Embalados num amor submerso

Vivido em outros tempos

Hoje, meros lamentos

Memórias que ficaram no passado

Embalados em sonhos alados

Desejos proibidos aguardando ser despertados

Ele é Miguel

Ela? talvez ainda esteja para chegar

Como um sonho de encantar

Dançando eloquentemente até a noite acabar

Ou quem sabe até esteja visível

Apenas com medo de se declarar

Por considerar um amor inacessível

Mas do impossível se pode fazer possível

Ele é Miguel

MM para vocês

Aguardando serenamente

Que chegue finalmente

“Era uma vez…”