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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Metaforas

31.12.22, MM

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Dizem que as minhas poesias são metáforas

Balas disparadas em qualquer direção

Palavras vadias perdidas em anáforas

Mas o que é que sabem eles das coisas do coração

 

Escrevo sentimentos que me fluem da alma

Melodias de desejos perdidos numa noite de luar

Mas calma

Que é assim que eu te quero

Perder-me no teu beijo sincero

Demorado, apaixonado

Conjunções retiradas da tua respiração ofegante

Que pedante!

Dizem as alforrecas de quintal

Que apenas sabem dizer mal

Mas “os cães ladram e a caravana passa”

E as vozes que ouço, são apenas as de quem a alma me abraça 

 

Questionam para quê ter um amor de verdade

Se se pode viver um amor de mentira

Fingimentos aleatórios de sentimentos contraditórios 

Matando a solidão com uma qualquer cara-metade

Que felicidade! Dizem os velhos do Restelo!

Que flagelo!

Felicidade? Felicidade é viver um amor correspondido

Sentir nos lábios um beijo sentido

Pele arrepiada junto da pessoa amada

Coração a palpitar de quem regressa ao lar

Fazer amor numa noite de luar

Brindar com um copo de vinho num olhar confidente

Adormecer num abraço envolvente

De quem se ama, de quem nos ama

Porque amor não é apenas dormir numa qualquer cama

Somente eu

29.12.22, MM

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Já tentei escrever nas linhas do destino o poema perfeito

Implorando aos céus para que fosse eu o teu eleito

Mas os meus versos não tocaram no teu coração 

 

Já tentei desvendar os segredos da alquimia do amor

Transformar em alegria o que era a tua dor

Mas a metamorfose era feita apenas de ilusão

 

Já tentei entender a infindável leveza do ser

Entrar no teu mundo para melhor te conhecer

Mas fizeste das portas da tua alma a minha prisão

 

Já desejei preparar-te um jantar à luz das velas

Eloquências amorosas como nas novelas

Mas o meu beijo não fluiu nas melodias da tua canção

 

E assim vou escrevendo nos trilhos, nos murais

Palavras sentidas eternizadas num amor de verdade

Sentindo a tua falta, preso à saudade

De te ter, de te ver, de te sentir

Da tua voz ouvir

Mas não sou teu

Não sou o dono do teu coração

Nem o motivo da tua paixão

E assim vou escrevendo nos trilhos, nos murais

Palavras que achas triviais

E hoje caminho, sozinho

Tão somente eu…

Tão somente eu…

Renascer

22.12.22, MM

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E do silêncio se fez grito quando a minha alma se dilacerou

Tormentos sofridos em prantos de traição

Sentimentos enterrados escondendo a solidão

Sonho encantado que um dia se desmoronou

Mas a vida continuou

 

Bati de frente com um novo amor

Frio na barriga, borboletas a esvoaçar

Noites inteiras imaginando um novo luar

Pétalas perfumadas de uma nova flor 

Mas foi apenas um sonho de encantar

 

Renasci em amores do antigamente

Químicas e físicas explodindo de prazer

Memórias esvoaçando num coração sorridente

Eloquências perdidas em fantasias de paixão 

Mas o rastilho não quis reacender 

 

Liberto as amarras daquelas se prendem mim

Hoje serei princípio meio e fim

Página em branco de um livro por estrear

Onde tudo pode acontecer

Sentir o coração a renascer

Reinventar as histórias de encantar

Anoitecer, amanhecer, voltar a viver

Redescobrir o amor, tornar a amar

Ilusão

14.12.22, MM

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Quando a noite cai feita de exaustão

Corpo moribundo sem qualquer reação

Olhos esbugalhados num semblante pesado

Memórias fatigadas de mais um dia passado

 

Mergulho na minha cama vazia e imaculada

Ausências de uma história nunca vivenciada 

Corpo morno embrulhado em lençóis de flanela

Mentiras iludidas nos contos da Cinderela

E eu, só penso nela

Aqui ao meu lado, deitada serenamente

Olhar hipnotizante, sorriso estonteante

Suave toque debaixo de um fogo ardente

 

Quando a noite cai embalada no luar

Sonhos flutuam perdidos no teu olhar

Janela semi-aberta esperando a tua chegada

Desejos da tua boca  por mim ser beijada

 

Deixa-me embalar-te nesta noite perdida

Acariciar o teu rosto de forma sentida

Assim, sem mas nem porquês

Sem dramas, nem talvez

Apenas sentir o deslizar da minha mão

Sentires o pulsar do meu coração

Que bate por ti

Que deseja viver em ti

No teu íntimo, no teu ser

Num abraço profundo

Desejo de viver

Fazer parte do teu mundo

Erotismos - Desejos

11.12.22, MM

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Devolvo a inocência aos tempos imemoriais

Liberto as correntes de consciências sentimentais

Hoje quero sentir o desejo que arde dentro de mim

Pecados carnais perdidos em jogos de sedução

Corpo a vibrar em estradas de prazer

Eloquências emaranhadas no íntimo da paixão

Sentir o meu corpo no teu, que tesão

Dedilhar a tua espinha dorsal até ao centro do teu prazer

Levar-te à lua

Fazer-te gemer, ver-te enlouquecer

Pele arrepiada, sentinela arrebitada

De sentir o meu prazer duro

De em ti fazer o meu porto seguro

E ir mais ao fundo

De ti, e tu em mim

Ofegante respiração

Cavalgadas frenéticas em lençóis de cetim

Pecados cometidos em corpos atordoados

Entregues às eloquências dos sonhos molhados

Que festim!

E tu assim, de quatro para mim

Só para me enlouquecer

Provocadora, sedutora

Observando o mastro do meu navio a crescer

Com a mesma indecência que o desejas absorver

Até desaparecer, em ti

Dentro do teu ser

Perdidos em desejos carnais 

Lua no cio, uivos primordiais

Viagens alucinantes

Versos penetrantes

Conjugações absurdas

Em sonoridades pudicas

Até ao jorrar final

Perdidos num abraço sentimental

Adormecidos num amor ancestral

Deixar ir

04.12.22, MM

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Naquele jardim há uma árvore, imponente, viçosa, como os seus ramos verdes, como se fossem longos braços estendidos, agradecendo ao sol pela dádiva da vida. Faz porto de abrigo para os passarinhos que ali cochicham animadamente, em rituais de sedução e de acasalamento. Faz sombra para os caminhantes que ali descansam antes de prosseguirem as suas jornadas. Mas é no aconchego da noite que é cúmplice e conhecedora dos mais íntimos segredos,  onde os amantes ali se encontram às escondidas, trocando juras de amor e consumando paixões ardentes. 

Mas o outono chega de mansinho. Muitas aves arrumam as suas trouxas e fazem-se à vida, a coruja-do-mato dá o alerta de que a sua época chegou. A aragem amena torna-se aos poucos uma forte brisa fazendo arrepiar os mais incautos. Aquela imponente árvore sabe que chegou a hora de deixar ir. As suas outrora viçosas folhas, carregam agora o peso das memórias, das histórias ouvidas, vividas e partilhadas. Sabem que se tornará um fardo demasiado pesado para fazer frente às adversidades da natureza. Pouco a pouco as folhas caem e as primeiras folhas a caírem são aquelas que apenas continham zumbidos, histórias aleatórias trazidas pelo vento. Seguidamente caem as folhas do diz que diz, das cusquices perdidas no tempo. E é desta forma que aos poucos, aqueles longos ramos vão ficando despidos. Caem as folhas das amarguras da vida, dos amores desencontrados, das paixões antigas, dos amigos que se afastaram, das dificuldades passadas, das lágrimas caídas compulsivamente, da cólera que se apoderou nos momentos de fraqueza.

Algumas folhas teimam em não querer cair, aquelas que carregam as boas recordações, dos dias de sol que pareciam intermináveis, dos risos sinceros, dos abraços apertados, dos magníficos luares… ai os luares (suspiros), mas também essas, acabam por cair. Nem mesmo as folhas que ficaram na saudade, nem as dos sonhos vívidos ou por viver, conseguem resistir, todas elas caem…

 

Já não se escondem os amantes debaixo de uma árvore despida, já não serve de proteção para o sol que agora parece hibernar por longos períodos. Já não são abrigo para os atrevidos pássaros, já não guardam em si todos os segredos do universo, nem embelezam a paisagem com as suas cores garridas. É apenas um tronco abandonado à sua sorte. Assim pensam aqueles que assistem melancólicos à passagem dos dias, sentados num qualquer banco frio de jardim. Aquele outrora imponente e viçosa árvore, apenas se libertou de todo o peso que já não necessita mais de carregar. O mundo em redor, apenas a vê nua, de alma despida, sem essência, quase uma aberração escultural. Mas ela possui o conhecimento dos universos, os segredos da passagem do tempo, já vivenciou os ciclos infinitos da natureza. Ela sabe que por mais longo que seja o inverno, a primavera chegará novamente, e tudo voltará a resplandecer de vida, de novas histórias, de novas memórias. Ela sabe que dos seus longos braços nascerão novas folhagens, que os passarinhos farão novamente ali o seu poiso, que dará abrigo a novos e velhos amantes, e aqueles que a ignoraram, voltarão a olhar maravilhados para o seu esplendor, resplandecendo o seu encantamento por todos a que a usufruem.

 

Ela sabe que há uma altura em que é preciso deixar ir para poder de novo renascer. No entanto, não mudou a sua essência nem deixou cair os seus longos braços, mateve-os junto a si, são parte de si. Sabe que durante esse tempo haverá enormes mudanças no universo, mas ela continuará ali, onde sempre esteve, mesmo que muitos não se apercebam disso.

O Amor

03.12.22, MM

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Não é que eu ande desacreditado do amor, pois essa, será sempre a minha eterna e derradeira esperança. Mas sinto que eu e o amor andamos desencontrados, como se o universo fosse dividido em duas partes temporariamente idênticas, mas eu que eu estou numa das partes e o amor na outra.  Por vezes tudo parece encaminhado e no entanto, em algum momento, por razões que a própria razão desconhece, os acontecimentos acabam por não fluir, o encanto parece desvanecer, como se todo o universo andasse desalinhado e nada parecesse fazer sentido. Questiono-me se estarei eu a bloquear de alguma forma, as linhas que me possam unir ao amor, à relação que vai para além do senso comum, condenado a amores impossíveis, a amores platónicos, como se as setas do Cupido trespassassem por mim em amores cruzados. Ou talvez o amor não se dê com a timidez, com quem nem sempre teve coragem de expressar os seus sentimentos, de correr atrás de um grande amor com receio de perder a amizade.

 

Mas não o vou trancar a sete chaves, apenas guardá-lo uma caixa de Pandora, permanecendo adormecido até às borboletas voltarem a esvoaçar dentro do meu ser, da minha alma, até voltar a sentir o sangue a fervilhar pelo desejo daquele ardente beijo, até o coração voltar a palpitar, de sentir a  pele a arrepiar na ânsia de outra pele tocar, envoltos naquele terno brilho no olhar, da cumplicidade sem necessidade de falar, até voltar-me a apaixonar. 

 

Talvez o amor surja numa noite ao luar, num passeio à beira mar, no meio de um qualquer jardim ou até mesmo fazendo amor em lençóis de cetim. Talvez surja num jantar à luz das velas, numa qualquer manhã solarenga de inverno, onde um abraço pode descongelar dois corações adormecidos, aquecendo-os numa tórrida paixão, roupas pelo chão, perder a noção do tempo e do espaço. Talvez descubra que o amor anda por aí, à espera que lhe dêem uma oportunidade de se sentir nas asas do vento,  de sentir novamente o doce sabor da liberdade, de amar, de encantar, de abraçar forte e não mais largar.

 

Por isso, hoje não vou procurar o amor, vou cantar, dançar, aproveitar a vida, brindar à amizade e à intensidade dos momentos, sentir o perfume da natureza a despertar, o sonido das ondas do mar, o brilho das estrelas e da lua a encantar.  Vou simplesmente viver o desassossego, de quem ousa acreditar, que o amor pode estar em qualquer lugar.