![erotismos - luzes da cidade cópia.jpg]()
"Quero que conheças um lugar". É desta forma que te convenço a irmos a um sitio carregado de magia e encantamento. Saímos do carro, caminhamos um pouco por um caminho ermo e subimos à fraga mais alta que conseguimos. No horizonte, a vista é simplesmente deslumbrante, somente ofuscada pelo teu hipnotizante sorriso, no qual eu me perco maravilhado, tal qual um adolescente diante do seu primeiro amor. A noite está quente, abafada, silenciosa. Por cima de nós não há estrelas nem luar, apenas negras nuvens que correm apressadas nos seus afazeres, ignorando por completo a nossa presença.
Sentámos-nos lado a lado como dois garotos em toda a sua inocência. Os nossos risos ecoam por entres as alcoviteiras fragas que pareciam escutar atentamente as nossas conversas. Ao longe, as luzes dos prédios acendiam e apagavam intermitentemente, como se transmitissem um qualquer código enigmático para desvendarmos. Permanecemos maravilhados, inventando imaginários cenários sempre que uma luz se apagava. Histórias de amores impossíveis, dramas, comédias, crimes premeditados, tudo envolvido numa rapsódia sem qualquer nexo, apenas conversa deitada ao vento e que nos faz desfazer em risos sem fim. “Que tolos!” - Estarão a pensar as fragas perante tamanha tontaria.
Uma brisa mais intensa fez quebrar o silêncio da noite, num assobiar que parecia trazer uma mensagem dos primórdios dos tempos. Ao ver-te arrepiada, envolvo-te num abraço. Agradeces o aconchego, encostas a tua cabeça no meu ombro e deixas-te ficar serenamente, sentindo as mágicas vibrações presentes no ar denso e eletrizante. Continuamos a observar em silêncio as luzes da cidade. Deslizo o meu braço sobre o teu ombro e costas, sentindo o teu corpo quente que faz estremecer todo o meu ser. Envolves o teu braço na minha cintura e cruzamos os olhares, intensos, intermitentes, como se os olhos comunicassem entre si. Perdido no teu olhar, passa pela minha cabeça mil pensamentos a uma velocidade estonteante, alternado entre a confiança e as inseguranças intrínsecas ao meu ser. Sorriso maravilhoso e hipnotizante, num olhar meigo em olhos cor de mel. Digo-te o quanto és linda, o quanto és especial, palavras saídas numa voz tremula envolta num nervosismo que não consigo esconder, e eu só peço aos deuses para me inspirarem neste momento, suplico ao universo que emane energia capaz de dotar de coragem tamanha. Finalmente, a minha boca é silenciada pelos teus lábios, quentes, envolventes, que me fazem viajar por todo o universo e voltar ao mesmo lugar, mais rápido que um piscar de olhos. Sorrimos e voltamos-nos a beijar perante as nuvens que continuam na sua correria e os cochichos das fragas, como se soubessem de antemão qual seria o desfecho de dois tolos que desafiaram as leis do universo, para estarem naquele lugar sagrado, carregado de magia e encantamento.
Quebrado o gelo da intimidade, levantas-te e sentas-te no meu colo voltada para mim. Todo o meu corpo reage em simultâneo, não conseguindo disfarçar o volume das minhas calças que cresce ao ritmo com que ajustas o teu corpo ao meu colo. Apercebes-te disso e provocas-me quase ingenuamente, atiçando-me com o fogo ardente que envolve o teu corpo. Eu não me faço de rogado, e faço as minhas mãos percorrer as curvas perigosas do teu corpo, envolvendo o teu pescoço com os meus lábios húmidos, quentes, desejosos de desvendar todos os segredos do teu corpo. “quero fazer amor contigo” - sussurro-te ao ouvido enquanto faço movimentos simulando a penetração.
Mas o universo parecia ter outros planos. As luzes da cidade apagaram-se em simultâneo, ao mesmo tempo que todo o céu era invadido por relâmpagos ferozes, fazendo em breves segundos ecoar estrondosos trovões. Talvez tenhamos desafiado os deuses, as leis do universo, a essência da própria natureza. Sem piedade, a água desabou do céu, como se todas aquelas nuvens que vimos passar, se tivessem concentrado por cima de nós. Gritamos em uníssono e corremos o mais rápido que conseguimos até ao carro. Entre gritos e risos, assim estamos nós, completamente encharcados. Após maldizermos de todo o universo, olhamos um para o outro, sorrimos, beijamos-nos. Sim, neste momento desejamos desafiar todas as leis, fossem elas mundanas ou transcendentes. Aquele era o nosso momento e sem hesitar, começamos fervorosamente a tirar toda a roupa encharcada que envolvia os nossos corpos. Nesse momento, fizemos parar o tempo por artes mágicas na sua forma mais pura. Somos apenas nós os dois, desnudados, famintos de desejos carnais, de volúpias, de desvendar as artes libidinosas e atingir o prazer supremo. Uma química difícil de explicar, apenas sentida por duas almas destinadas. Limpo o teu rosto carinhosamente e após mais um beijo ardente, faço os meus lábios explorar a essência do teu corpo ainda extremamente molhado, como se o estivesse a chupar gota a gota, a água que deslizava pela tua pele nua, arrepiada, arrebitada. Seguras-me na cabeça como se me quisesses guiar, mesmo sabendo que ambos tínhamos o mesmo destino, chegar ao teu segredo. Sinto o teu corpo a contorcer-se e a tua respiração cada vez mais ofegante. Intensifico os movimentos, explorando as zonas mais íntimas, os segredos mais profundos, entrando em ti, no teu ser, na tua essência. Implorando para que eu pare, puxas-me para cima. “Quero-te dentro de mim”, sussurra-me ao ouvido ao mesmo tempo que envolves em todo o meu corpo, cravando-me as unhas sem dó nem piedade, como se estivesses a tatuar a tua marca em mim. Faço suaves movimentos de provocação antes da penetração, de entrar em ti com toda a minha essência, deixando-te quase à beira da loucura. Os nossos corpos fundem-se, e por momentos, um relâmpago faz desvendar o teu cândido rosto extasiado de puro prazer de me teres em ti, de estares a ser possuída por mim. Vou ao fundo de ti, uma e outra vez. Movimentos constantes, alucinantes. Os gemidos tornam-se cada vez mais audíveis e os gritos ofuscam qualquer trovão por mais intenso que seja. O êxtase está para breve e ambos sabemos disso. Colamos os lábios e iniciamos uma dança corporal, como movimentos cada vez mais rápidos, mais intensos, mais eloquentes. Por fim a apoteose! Sinto a energia a sair do meu corpo e a invadir a tua intimidade. Somos apenas um só numa fusão perfeita, partilhando os mesmos fluidos cósmicos. Estrelas brilhando, Via Láctea em convulsão, vulcões em erupção nas mais profundas águas dos oceanos. Por fim, todo o universo estabiliza-se, a respiração retorna ao pulsar ritmado ao som do centro da própria terra. As fragas, essas coraram, escorrendo por entre as suas rachas as águas límpidas emendas pelo céu.
Sorrimos, abraçamos-nos, trocamos beijos e suaves caricias. As luzes da cidade já tinham voltado, a tempestade tinha acalmado. Tiro uma manta da mala do carro e cubro os nossos corpos nus, saciados, extasiados. Aconchego o teu corpo com o meu e adormecemos a contar as luzes da cidade, que aos poucos se iam apagando.
É assim que imagino a nossa primeira vez, contigo, que me lês nas entrelinhas da minha escrita, que adormeces comigo no teu pensamento, que evocas as estrelas para que os nossos caminhos se cruzem um dia. E se o meu desejo for o teu desejo, e se as estrelas não se acenderem, faremos com que todas as luzes da cidade sejam testemunhas de algo maravilhoso!