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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Angústias

22.11.22, MM

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Percorro o caos que habita em mim

Pétalas perfumadas do teu jardim

Que deixaste espalhadas por aí

E eu aqui, sem ti

Angústias perdidas sem ver o fim

 

Divago mais um pouco por entre sentimentos

Que nunca tive coragem de revelar

Coisas que sinto cá dentro do meu âmago

Num coração que não pára de sangrar

 

Turbilhões de emoções viajam nos meus pensamentos

Partir, ficar, desistir, continuar

Futuro incerto num destino certo

Que não consigo decifrar

 

Desperto ao som da chuva que cai incessantemente

Inundando o caos que habita dentro de mim

Desejos dos teus lábios beijar eloquentemente

Sob as pétalas perfumadas do teu jardim

Mas estou aqui, sem ti

Angústias perdidas sem ver o fim

Simples amigo

20.11.22, MM

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Há histórias que um dia ficaram por contar

Desejos de beijos que não chegaram a acontecer

Sentimentos enclausurados por revelar

Esperanças renovadas num novo amanhecer

 

Deixa o manto da noite te aconchegar

Sonhos que o coração deseja viver

Embriagados no néctar dos deuses

Embalados em melodias de encantar

Relaxa, vou-te preparar o jantar

Luz das velas, lareira acesa

É hora de brindar

Corpos entrelaçados neste sentimento

Eloquências de quem quer amar

De alma, de coração

Viver uma tórrida paixão

Renascer, ter um novo alento

Voltar a sonhar, parar o tempo

Só para poder estar contigo

Esperanças de ser mais que um simples amigo

 

O coração e a razão

10.11.22, MM

 

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Habitam em mim sentimentos que não consigo decifrar

Bichinhos carpinteiros cozinhando o meu destino

Que desatino

Palavras enredadas em teias que não consigo soletrar

Nem sílabas, nem frases, nem noites ao luar

Somente uma dor, um ardor

Inexplicável, implacável 

Que trespassa o âmago do meu ser

Sem amanhecer, sem anoitecer

E eu, só queria saber a razão

Das gaivotas fugirem da tempestade

Ai que saudades

De sentir o coração ao vento

Perdido no tempo

Voando nas asas da liberdade

Sentindo coisas sem explicação 

Que os anciãos chamam de paixão

Mas a razão, essa, diz que tudo é ilusão 

Mas que sabe ela do que se passa no coração 

Do sangue que fervilha nas veias

De sentir a epiderme a arrepiar

Não de frio, mas de prazer

Das borboletas a esvoaçar

Dos jantares à luz das candeias

Mas como pode ela saber

Se vive aprisionada no raciocínio lógico 

Lógico?

Andorinhas na primavera, castanhas no outono 

Inverno com frio de arrepiar, e o verão? Calor de escaldar

Lógico???

Eu não quero um amor lógico explicado em fórmulas matemáticas

Ou escrito nas artimanhas do destino

Quero livre arbítrio 

Eximia química, estonteante física, átomos a esvoaçar 

Coração a palpitar

Hormonas, feromonas, coisas difíceis de explicar

Exaltando os mais nobres sentimentos 

Viver o amor sem arrependimentos

E se a razão tiver razão 

E se tudo for apenas um sonho, uma ilusão 

Então não quero mais acordar

Porque eu, nasci para te amar 



Pensamentos

06.11.22, MM

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No que pensas quando bate a saudade

E as luzes da cidade se apagam

Onde os sonhos ganham as asas da liberdade

E as almas em dormências se embriagam

 

No que pensas quando te envolves na tua almofada

Segredos revelados de uma alma atormentada

Que não dorme, chora

Em silêncios afogados

Ansiando a chegada da madrugada

Que não chega, nem a alma aconchega

Sentimentos aprisionados em calabouços zarpados

Para alto mar, que ninguém pode chegar

Inacessível ao que sente o coração

Mas ele sente

Ele não mente

Quer amar

Soltar as amarras

Ouvir o canto das cigarras

Que falam de amor

De verdade

De quem parte e deixa saudade

 

No que pensas quando os olhos se fecham na escuridão

Luz acesa para não sentir a solidão

Murmúrios chorados por um amor que não está presente

E a alma, essa continua dormente

Aguardando um abraço, um aconchego

Envolvidos no regaço de quem se ama

Partilhando a mesma cama

Provocando desassossego

Na ânsia de fazer amor

De sentir o amor

De viver o amor

De fechar os olhos num suave adormecer

Envolvências nos braços de quem se ama de verdade

Pensamentos partilhados com a mesma cumplicidade

Corpo despertado em carícias num novo amanhecer

Erotismos - Luzes da Cidade

01.11.22, MM

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"Quero que conheças um lugar".  É desta forma que te convenço a irmos a um sitio carregado de magia e encantamento. Saímos do carro, caminhamos um pouco por um caminho ermo e subimos à fraga mais alta que conseguimos. No horizonte, a vista é simplesmente deslumbrante, somente ofuscada pelo teu hipnotizante sorriso, no qual eu me perco maravilhado, tal qual um adolescente diante do seu primeiro amor. A noite está quente, abafada, silenciosa. Por cima de nós não há estrelas nem luar, apenas negras nuvens que correm apressadas nos seus afazeres, ignorando por completo a nossa presença.

 

Sentámos-nos lado a lado como dois garotos em toda a sua inocência. Os nossos risos ecoam por entres as alcoviteiras fragas que pareciam escutar atentamente as nossas conversas. Ao longe, as luzes dos prédios acendiam e apagavam intermitentemente, como se transmitissem um qualquer código enigmático para desvendarmos. Permanecemos maravilhados, inventando imaginários cenários sempre que uma luz se apagava. Histórias de amores impossíveis, dramas, comédias, crimes premeditados, tudo envolvido numa rapsódia sem qualquer nexo, apenas conversa deitada ao vento e que nos faz desfazer em risos sem fim. “Que tolos!” - Estarão a pensar as fragas perante tamanha tontaria. 

Uma brisa mais intensa fez quebrar o silêncio da noite, num assobiar que parecia trazer uma mensagem dos primórdios dos tempos. Ao ver-te arrepiada, envolvo-te num abraço. Agradeces o aconchego, encostas a tua cabeça no meu ombro e deixas-te ficar serenamente, sentindo as mágicas vibrações presentes no ar denso e eletrizante. Continuamos a observar em silêncio as luzes da cidade. Deslizo o meu braço sobre o teu ombro e costas, sentindo o teu corpo quente que faz estremecer todo o meu ser. Envolves o teu braço na minha cintura e cruzamos os olhares, intensos, intermitentes, como se os olhos comunicassem entre si. Perdido no teu olhar, passa pela minha cabeça mil pensamentos a uma velocidade estonteante, alternado entre a confiança e as inseguranças intrínsecas ao meu ser. Sorriso maravilhoso e hipnotizante, num olhar meigo em  olhos cor de mel. Digo-te o quanto és linda, o quanto és especial, palavras saídas numa voz tremula envolta num nervosismo que não consigo esconder, e eu só peço aos deuses para me inspirarem neste momento, suplico ao universo que emane energia capaz de dotar de coragem tamanha. Finalmente, a minha boca é  silenciada pelos teus lábios, quentes, envolventes, que me fazem viajar por todo o universo e voltar ao mesmo lugar, mais rápido que um piscar de olhos. Sorrimos e voltamos-nos a beijar perante as nuvens que continuam na sua correria e os cochichos das fragas, como se soubessem de antemão qual seria o desfecho de dois tolos que desafiaram as leis do universo, para estarem naquele lugar sagrado, carregado de magia e encantamento. 

Quebrado o gelo da intimidade, levantas-te e sentas-te no meu colo voltada para mim. Todo o meu corpo reage em simultâneo, não conseguindo disfarçar o volume das minhas calças que cresce ao ritmo com que ajustas o teu corpo ao meu colo. Apercebes-te disso e provocas-me quase ingenuamente, atiçando-me com o fogo ardente que envolve o teu corpo. Eu não me faço de rogado, e faço as minhas mãos percorrer as curvas perigosas do teu corpo, envolvendo o teu pescoço com os meus lábios húmidos, quentes, desejosos de desvendar todos os segredos do teu corpo.  “quero fazer amor contigo” - sussurro-te ao ouvido enquanto faço movimentos simulando a penetração. 

Mas o universo parecia ter outros planos. As luzes da cidade apagaram-se em simultâneo, ao mesmo tempo que todo o céu era invadido por relâmpagos ferozes, fazendo em breves segundos ecoar estrondosos trovões. Talvez tenhamos desafiado os deuses, as leis do universo, a essência da própria natureza. Sem piedade, a água desabou do céu, como se todas aquelas nuvens que vimos passar, se tivessem concentrado por cima de nós. Gritamos em uníssono e corremos o mais rápido que conseguimos até ao carro. Entre gritos e risos, assim estamos nós, completamente encharcados. Após maldizermos de todo o universo, olhamos um para o outro, sorrimos, beijamos-nos. Sim, neste momento desejamos desafiar todas as leis, fossem elas mundanas ou transcendentes. Aquele era o nosso momento e sem hesitar, começamos fervorosamente a tirar toda a roupa encharcada que envolvia os nossos corpos. Nesse momento, fizemos parar o tempo por artes mágicas na sua forma mais pura. Somos apenas nós os dois, desnudados, famintos de desejos carnais, de volúpias, de desvendar as artes libidinosas e atingir o prazer supremo. Uma química difícil de explicar, apenas sentida por duas almas destinadas. Limpo o teu rosto carinhosamente e após mais um beijo ardente, faço os meus lábios explorar a essência do teu corpo ainda extremamente molhado, como se o estivesse a chupar gota a gota, a água que deslizava pela tua pele nua, arrepiada, arrebitada. Seguras-me na cabeça como se me quisesses guiar, mesmo sabendo que ambos tínhamos o mesmo destino, chegar ao teu segredo. Sinto o teu corpo a contorcer-se e a tua respiração cada vez mais ofegante. Intensifico os movimentos, explorando  as zonas mais íntimas, os segredos mais profundos, entrando em ti, no teu ser, na tua essência. Implorando para que eu pare, puxas-me para cima. “Quero-te dentro de mim”, sussurra-me ao ouvido ao mesmo tempo que envolves em todo o meu corpo, cravando-me as unhas sem dó nem piedade, como se estivesses a tatuar a tua marca em mim. Faço suaves movimentos de provocação antes da penetração, de entrar em ti com toda a minha essência, deixando-te quase à beira da loucura. Os nossos corpos fundem-se, e por momentos, um relâmpago faz desvendar o teu cândido rosto extasiado de puro prazer de me teres em ti, de estares a ser possuída por mim. Vou ao fundo de ti, uma e outra vez. Movimentos constantes, alucinantes. Os gemidos tornam-se cada vez mais audíveis e os gritos ofuscam qualquer trovão por mais intenso que seja. O êxtase está para breve e ambos sabemos disso. Colamos os lábios e iniciamos uma dança corporal, como movimentos cada vez mais rápidos, mais intensos, mais eloquentes. Por fim a apoteose! Sinto a energia a sair do meu corpo e a invadir a tua intimidade. Somos apenas um só numa fusão perfeita, partilhando os mesmos fluidos cósmicos. Estrelas brilhando, Via Láctea em convulsão, vulcões em erupção nas mais profundas águas dos oceanos. Por fim, todo o universo estabiliza-se, a respiração retorna ao pulsar ritmado ao som do centro da própria terra. As fragas, essas coraram, escorrendo por entre as suas rachas as águas límpidas emendas pelo céu.

Sorrimos, abraçamos-nos, trocamos beijos e suaves caricias. As luzes da cidade já tinham voltado, a tempestade tinha acalmado. Tiro uma manta da mala do carro e cubro os nossos corpos nus, saciados, extasiados. Aconchego o teu corpo com o meu e adormecemos a contar as luzes da cidade, que aos poucos se iam apagando.



É assim que imagino a nossa primeira vez, contigo, que me lês nas entrelinhas da minha escrita, que adormeces comigo no teu pensamento, que evocas as estrelas para que os nossos caminhos se cruzem um dia. E se o meu desejo for o teu desejo, e se as estrelas não se acenderem, faremos com que todas as luzes da cidade sejam testemunhas de algo maravilhoso!