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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Silêncios

29.06.22, MM

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Silêncios

Que na alma fazem gritos 

Murmúrios de um vazio atroz 

Suplícios na casa dos malditos

Que no vácuo projetam a sua voz

 

Silêncios 

De quem espera e desespera

O passar dos dias avante

Sem fantasia, sem quimera

Sem um abraço reconfortante 

 

Silêncios 

Numa tela em tons de branco

Memórias perdidas ao vento

Contempladas num qualquer banco

Numa vida sem qualquer alento

 

Silêncios 

Feitos de revoltas contidas 

Escritas em papiros de amarguras

Sem asas para voar nem loucuras

Apenas sombras na alma esquecidas

Já tudo fiz...

28.06.22, MM

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Já dei amor a quem nunca o mereceu

Já sofri por quem um dia se arrependeu

Já fugi de quem me amou

Já esperei por quem nunca voltou

 

Já me afoguei em lágrimas derramadas

Já desesperei por palavras trocadas

Já chorei em noites estreladas

Já desiludi mulheres por mim apaixonadas 

 

Já quis fazer amor a ver o mar

Já desejei-te em noites de luar

Já sonhei que me podias amar

Já ousei perder-me no teu olhar

 

Já tudo fiz sem nada realizar

Mar de emoções feito de ilusões

Desejos proibidos querendo se libertar

E hoje, só queria os teus lábios beijar

Amor ou amizade

22.06.22, MM

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Pode a amizade esconder um amor
Sentimentos vividos entre o frio e o calor
Perder-se no vácuo sem saber a razão
Palpitações, arritmias, coisas do coração

Pode o amor ser apenas amizade
Viver o dia-a-dia sem saber o que é a saudade
Relações feitas sem grandes emoções
Procriar sem conjugar o verbo amar

Podem o amor e a amizade viver em harmonia
Corpos entrelaçados na mesma sintonia
Abraçar em silêncio quando o mundo quer desabar
Segurar as lágrimas quando se tem vontade de chorar
Ir ao fim do mundo e ter o desejo de regressar
Para o colo de quem se ama, partilhar a mesma cama
Adormecer aconchegado e num novo amanhecer
um beijo, uma carícia, um bom dia desejar

Foge comigo

16.06.22, MM

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Foge comigo esta noite

Por onde os bravios rios descarrilam no mar

Atravessaremos as montanhas sagradas

Onde os corvos ensaiam o seu cantar

Viajaremos entre o ocaso e o amanhecer

Pelos eloquentes trilhos das mouras encantadas

Desvendaremos as linhas corporais

Mistérios ancestrais

Em noites de intenso prazer

 

Foge comigo esta noite

De mãos dadas em almas abraçadas

Dançando eloquentemente até a música ficar dormente

Volúpias despidas sobre o véu sagrado

Segredos trocados num beijo ousado

Lábios percorrendo caminhos ofegantes

Gritos ecoados na gruta dos amantes

 

Foge comigo esta noite 

Por caminhos que mais ninguém percorreu, viveu

Ousadias, fantasias e até heresias

Parar o tempo, viver o momento

Esquecer o mundo, embarcar num amor profundo

Abraçar a natureza, mandar passear a tristeza

Nós dois de mão dadas

Duas almas apaixonadas

Química, física e muitas histórias por descobrir

E no final, acreditar que o melhor ainda está por vir

Pauta musical

09.06.22, MM

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Solto os acordes que prendem-me à vida

Dedilhados em choros de melodias teimosas

São lágrimas que no coração perfuram

Sentimentos perdidos de uma vida sentida

Entrelaçados nas cordas de tardes chuvosas

Sonidos aleatórios que no tempo perduram

 

Viajo nas intermitências de uma pauta musical

Caminhos tortuosos que me levam à tua essência

Rendo-me aos encantos do canto primordial

E no despir da alma, perco a decência

Que eloquência 

Visões extraordinárias perpetuadas no meu olhar

E eu, menino, ousando te tocar 

Corações batendo descompassadamente

Segredos tatuados no meu corpo dormente

Mas és melodia fluida numa pauta musical 

E eu estou preso nos sustenidos da minha guitarra

Alentos vagos no desencanto de uma cigarra

Formiga rabiga aguardando a chegada do vendaval

Voar, sonhar, viajar, amar

Sonhos que contigo desejava realizar

Gritar aos sete ventos que te amo afinal

E no anoitecer, fazer amor numa noite de luar

 

O fim e o princípio

02.06.22, MM

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Há assuntos complicados de falar, quer pela sua natureza, sensibilidade e repercussões. O divórcio significa quase sempre o fim de um percurso trilhado a dois, de projetos que um dia ficaram interrompidos abruptamente por uma ou ambas as partes, de sonhos que ficaram por realizar. Mas sempre tive consciência que são situações próprias da própria vida, de sentimentos que esmorecem, de trilhos que são traçados separadamente, de um conjunto por vezes extremamente complexo de fatores que levam à ruptura daquilo que um dia chegámos a acreditar que seria para sempre. 

Foi nesse findar que percebi que apenas estava preso a um enredo viciado, condenado desde logo ao fracasso e ao sofrimento. O libertar das amarras foi um bálsamo para voltar a adquirir a autoconfiança perdida, a alegria do encanto das pequenas coisas, o devolver dos sonhos perdidos.

No entanto, é um assunto complexo. Ainda permanece na sociedade muitos estereótipos relativamente à forma como os homens encaram o divórcio. Continuam a carregar constantemente os atributos de um vida de boémia, com muito álcool e mulheres da noite, de relacionamentos fugazes ou a tentativa de procurar uma pessoa que lhes ampare a solidão. Devido ao facto desses estereótipos não combinarem com a minha filosofia de vida, comecei a ser observado como um homem encalhado. A verdade é que também há homens que apenas querem paz e sossego, querem dar o melhor de si ao seus filhos, que desejam apanhar os cacos e trilhar novos caminhos, e no meu caso específico, foi pautado pelo surgimento de alguém especial.

Alguém que já conhecia e muito admirava, tornou-se o meu anjo da guarda, a minha confidente, aquela pessoa que com uma simples mensagem tornava o meu dia mais bonito, que afastava as nuvens escuras que pairavam sobre a minha mente, que desbloqueava todo o meu mundo tornando tudo mais simples. Ambos sabíamos que lutávamos por amor quase impossível, um amor que podia caber nas grandes histórias de amor do mundo. Mas apesar de um coração cheio de amor para oferecer, ainda habitavam em mim nuvens escuras, maléficas, carregadas de medos, de memórias recentes, e talvez por covardia, tenha desistido de lutar na batalha principal. 

Ainda hoje carrego no meu corpo a armadura, feito velho guerreiro solitário, vagueando pelos escombros das sombras, na vã esperança que os desígnios do destino, façam voltar a cruzar os nossos caminhos. Ainda hoje deixo sementes em campos áridos na esperança que nas monções vindouras as façam renascer, as façam florescer. 

Neste momento, sinto que novos capítulos estão a abrir-se, com esperanças renascidas, com novos alentos carregados de inspiração. Um jardim perfumado carregado de sensações que nos transportam para um mundo de alegria e fantasia, de sonhos quentes e eloquentes. Há qualquer coisa no ar.