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Há assuntos complicados de falar, quer pela sua natureza, sensibilidade e repercussões. O divórcio significa quase sempre o fim de um percurso trilhado a dois, de projetos que um dia ficaram interrompidos abruptamente por uma ou ambas as partes, de sonhos que ficaram por realizar. Mas sempre tive consciência que são situações próprias da própria vida, de sentimentos que esmorecem, de trilhos que são traçados separadamente, de um conjunto por vezes extremamente complexo de fatores que levam à ruptura daquilo que um dia chegámos a acreditar que seria para sempre.
Foi nesse findar que percebi que apenas estava preso a um enredo viciado, condenado desde logo ao fracasso e ao sofrimento. O libertar das amarras foi um bálsamo para voltar a adquirir a autoconfiança perdida, a alegria do encanto das pequenas coisas, o devolver dos sonhos perdidos.
No entanto, é um assunto complexo. Ainda permanece na sociedade muitos estereótipos relativamente à forma como os homens encaram o divórcio. Continuam a carregar constantemente os atributos de um vida de boémia, com muito álcool e mulheres da noite, de relacionamentos fugazes ou a tentativa de procurar uma pessoa que lhes ampare a solidão. Devido ao facto desses estereótipos não combinarem com a minha filosofia de vida, comecei a ser observado como um homem encalhado. A verdade é que também há homens que apenas querem paz e sossego, querem dar o melhor de si ao seus filhos, que desejam apanhar os cacos e trilhar novos caminhos, e no meu caso específico, foi pautado pelo surgimento de alguém especial.
Alguém que já conhecia e muito admirava, tornou-se o meu anjo da guarda, a minha confidente, aquela pessoa que com uma simples mensagem tornava o meu dia mais bonito, que afastava as nuvens escuras que pairavam sobre a minha mente, que desbloqueava todo o meu mundo tornando tudo mais simples. Ambos sabíamos que lutávamos por amor quase impossível, um amor que podia caber nas grandes histórias de amor do mundo. Mas apesar de um coração cheio de amor para oferecer, ainda habitavam em mim nuvens escuras, maléficas, carregadas de medos, de memórias recentes, e talvez por covardia, tenha desistido de lutar na batalha principal.
Ainda hoje carrego no meu corpo a armadura, feito velho guerreiro solitário, vagueando pelos escombros das sombras, na vã esperança que os desígnios do destino, façam voltar a cruzar os nossos caminhos. Ainda hoje deixo sementes em campos áridos na esperança que nas monções vindouras as façam renascer, as façam florescer.
Neste momento, sinto que novos capítulos estão a abrir-se, com esperanças renascidas, com novos alentos carregados de inspiração. Um jardim perfumado carregado de sensações que nos transportam para um mundo de alegria e fantasia, de sonhos quentes e eloquentes. Há qualquer coisa no ar.