Conto de Natal
Que o espírito do Natal ilumine todos os corações. Boas Festas!
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Que o espírito do Natal ilumine todos os corações. Boas Festas!
Aguardo apático a chegada dos primeiros raios de sol. Sei que romperão por entre as estreitas fissuras dos estores que mantêm o meu quarto escuro, frio, na melancolia das noites vazias de essência, de vida, do amor. Tudo me parece tão previsível, tal qual um qualquer guião escrito a conta-gotas, pausado, reflexo dos eternos dias passados em tons cinzentos. Aconchego-me a um canto da minha imensa cama. “para que tanto espaço?” questiono-me impacientemente enquanto volto a olhar para as estreitas fissuras. Ouso palmear os finos lençóis de flanela para além do calor do meu corpo, mas não existe mais nada para além de um tecido frio, imaculado, sem histórias de corpos que nunca ousaram os meandros do prazer, que nunca ficaram amarrotados nem tão pouco molhados por corpos que nunca se deleitaram em ofegantes suores e gemidos.
Não sei quanto tempo já passou nesta melancólica manhã, nem tão pouco sei dizer se está frio ou calor, se há pessoas na rua a caminhar despreocupadas em mais um fim-de-semana repetido. Observo a claridade a invadir lentamente o quarto, mas o sol, esse, ainda deve continuar escondido para além do monte. Talvez, se eu vivesse do outro lado do monte, poderia usufruir dos primeiros raios de sol! Mas o que importa… a melancolia dos dias que passam repetidamente seriam iguais.
Por fim levanto-me, apressado, sem me despedir da cama quente que me deu abrigo na fria noite, que foi confidente dos meus desabafos. Talvez seja melhor assim, talvez esteja melhor sem mim. Dispo a roupa que conheceu todos os segredos do meu corpo e atiro-a aleatoriamente para cima da cama. Talvez estejam bem uma para a outra. Dirijo-me aborrecido para a janela do quarto tentando perceber a ausência dos raios do sol. Ainda meio atormentado, lembro-me que o sol nasce na outra ponta da casa. Abro apressado a porta do quarto que me levará por entre o corredor até à sala. No chão e nas paredes, já estão tatuados os raios de sol, que rompem freneticamente por entre as friestas dos estores ainda meio fechados. Deambulo o meu corpo desnudado por entre o corredor, passada lenta, observando encantado os pingos de luz trepando o meu corpo com o aproximar da janela. Sinto a luz a trepar no intimo do no meu corpo, trespassando-o, libertando a minha alma para lugares paradisíacos. Encerro os olhos e deixo que os mais secretos desejos tomem conta de mim, do meu corpo nu, embebido em pensamentos pecaminosos, devaneios promíscuos, sensações de um prazer urgente, emergente. Puxo a compasso os estores da porta vidrada que dá para a varanda. Deixo o calor trespassado pelo vidro, apodera-se do meu corpo que lentamente elimina as pequenas sombras, outrora preenchidas pelas estreitas friestas que não deixavam passar o sol.
E ali estou, à janela, observando a minha floresta encantada, mágica, cheia de vida, de seres enigmáticos, dos pássaros falantes, das árvores que guardam os segredos dos amantes que por ali ousam entrar e praticar a arte do amor. Em tempos, traziam-me notícias de todos os lados, novidades frescas trazidas pelo vento. Agora já não, talvez eu tenha perdido o encanto ou a sensibilidade de as compreender, talvez seja reflexo da melancolia dos meus dias pintados em tons cinzentos, de quem já não anseia por um amanhecer diferente.
Permaneço mais um pouco encostado ao pilar da porta, desnudado, provocador, deleitando-me em pensamentos eróticos. Talvez até possa estar a ser observado de uma janela distante, ou talvez os pássaros gravem a minha imagem escandalizados, transportando-a até à beatas fervorosas de poder observar e depois com ar de desdém, criticarem. Ou, quem sabe, talvez por alguém que me observe através de uma bola de cristal, e nesse universo alternativo, percorramos os mesmos caminhos corporais em busca dos mais secretos desejos, de explorar a sensibilidade dos pontos que provocam a respiração ofegante, os gemidos que não pedem ser contidos e muito menos silenciados, na urgência de sentir os lábios molhados num beijo ardente, eloquente, apaixonante, descendo, subindo, entrando, saindo, possuindo avidamente numa dança corporal, animal, rumo ao êxtase final.
Hoje quebrei a melancolia dos dias pintados em tons de cinzento. Talvez hoje escreva um poema cheio de cor, talvez fale do erotismo que me corre nas veias ou do amor emaranhado nas suas teias. Talvez hoje fale de ti…
Sigo os caminhos da noite escura que me invade a alma
Soltam-se em mim os desejos carnais que ouso desfrutar com calma
Becos, dunas, mansões ou meras casas abandonadas
Antros de prazer amordaçados por saias amarrotadas, molhadas
Feitiços hipnóticos protagonizados pela cheia lua
Eu aqui, desejo ardente, eloquente, de nos meus braços ter-te nua
Desnudada, enfeitiçada, atiçada, mordendo o isco, arrebitada
Corpos exaltados, excitados, roçando o clímax da tesão
Fogo ardente percorrendo as entranhas da paixão
Oh lua, oh luar,
Encantamento da fera que ousa se libertar
Loba com o cio na emergência do prazer, de acasalar
Toque ardente, emergente, fantasia latente
Oh lua, oh luar
Toca no meu íntimo e vem-me… amar?
Amor provocador emergido no teu calor
Quero-te em mim e eu quero-te em ti
Agora, já, sem mas nem porquês, neste momento
Desfrutar no teu corpo todo o meu arrebatamento
E no êxtase final abraça-te com todo o sentimento
Caídos, exaustos, embebidos no deleite prazeroso
Entrelaçados num abraços sentido e gostoso
Abençoados pela lua, e eu contemplando-te nua
Beleza ímpar que faz o meu coração disparar
Perdido do teu sorriso, e eu sem juízo, roubo-te mais um beijo
Fruto do meu desejo, do meu ensejo
De nos teus braços pernoitar
Oh lua, oh luar…
Pertenço ao mundo, à terra, à natureza
Liberdade sonhada que defendo com firmeza
Estradas imaginadas na sua infinita beleza
Mapa de estrelas desenhadas com destreza
Pertenço às pessoas que me rodeiam
Mulheres que por mim um dia se apaixonaram
Corpos exaltados que na chama incendeiam
Secretos desejos que no fogo se propagaram
Pertenço a quem ousa a minha alma tocar
Amizade, amor, paixão, tudo vivido em liberdade
Aldeias, vilas, cidades ou qualquer outro lugar
E por onde passar, levarei comigo a saudade
Serei de todos e de todos serei alguém
Vagabundo à conquista do mundo
Anestesiado num sonho profundo
Mas o meu coração
Esse,
Será sempre teu
Teu, e de mais ninguém…