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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

E se esta história...

28.11.21, MM

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E se esta história não tivesse era uma vez

Não fosse de fadas, bruxas, príncipes ou princesas

Sem castelos encantados nem impenetráveis fortalezas

Sem casamentos imperiais ou encontros banais

 

E se fosse uma história que fugisse à sensatez

Sem qualquer pudor, carregada de nudez

do corpo, da alma, do coração

Escrita em corpos de poetas, tatuadas por poetisas

Traços marcantes sem linhas indecisas

Sussurrando ao ouvido estrofes de linda canção

 

E se esta história fosse sobre ele, um rapaz acanhado

Passando os dias num alpendre aguardando um amor encantado

Escrevendo poemas no seu caderno alado

Letras que no sorriso dela ganham vida

Em momentos loucos de inspiração

Desejos reprimidos ousando seus lábios beijar

Contornos desenhados do seu corpo que desejava tocar

 

E se esta história fosse sobre ela, uma rapariga pouco amada

Que nos seus versos desejava conhecer o amor

Palavras mágicas de esperança e de cor

Desejos secretos de ser acarinhada, beijada, abraçada

Com a mesma intensidade com que brota casa palavra do seu ser

Versos melodiosamente encaixadas numa pauta musical

Como quem dedilha um corpo no seu desejo carnal

 

E se esta história fosse de caminhos cruzados, encruzilhados

Frases entrelaçadas numa mesma quadra, apaixonada

Sílabas simbolizadas, desvairadas, sensualizadas 

Proferidas em uníssono no mesmo desejo de amar

Silenciadas com um beijo ardente, eloquente

Ele escrevia para ela! Quem diria!

Ela escrevia para ele! Que ironia!

Palavras soltas

22.11.21, MM

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Quero sentir a poesia a correr-me nas veias

Fervilhando emoções enredadas nas suas teias

Palavras renascidas das cinzas e no fogo forjadas

Voando livremente em quadras não cruzadas

E que importa se não rimar

Que interessa se na métrica não ficar

Eu só quero escrever palavras que façam endoidecer até adormecer

Saboreá-las nos antros recônditos do prazer 

Que façam sonhar, acreditar

Que me façam voltar a amar...

 

Quero sentir-me embebido por doces palavras

Embriagado nas eloquências joviais dos momentos triviais

Em histórias de príncipes, princesas e fadas

Sem bruxas nem mulheres mal amadas

Escritas em frases soltas, loucas, desvairadas

 

Quero viver na intensidade insana esta liberdade

De escrever, de viver, de renascer

Talvez, quem sabe, até te conhecer

A ti! Olá sou o Miguel, muito prazer!

Quero saborear cada momento, carregado de alento

Estrofes sensuais dançadas em silabas de paixão

Viajando para alem da imaginação, reiventando o coração

Num destino onde ainda há tanto para escrever

Num caderno sem linhas traçadas

Aguardando por novas palavras entrelaçadas

Já não sinto..

21.11.21, MM

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Já não sinto a eloquência das manhãs frenéticas

Onde da alma brotavam silenciosamente palavras poéticas

Ânsias intemporais que nas linhas do tempo ousava escrever

Sentimentos eternizados no amanhecer que não consegui viver  

 

Já não sinto o corpo ardendo de desejo, do ensejo do teu beijo

Já não sinto a alma cintilando, extravasando, voando

Já não sinto corpo, já não sinto a alma, apenas estados hipnóticos 

Sonambulismos traçados por caminhos caóticos 

Sem rumo nem direção 

Sem sem vontade nem emoção 

Aguardando o destino fatal

Traçado nas curvas da minha solidão

Em estradas vivenciadas na desilusão

 

Já não sinto vontade do choro afogar

Lágrimas escorridas que o fogo conseguiu apagar

Palavras imaginadas que no meu caderno esmoreceram

Fechadas, trancadas, eternizadas no vazio constante

Poesias desfragmentadas pelo vento agora cortante

Sentenciando esta história eternamente

Esperanças

14.11.21, MM

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Tudo o que eu queria era contigo estar

Uma noite ao luar

De mãos dadas e abraçar

Perdido no teu olhar

(Recomeçar...)

 

Mais um dia, mais um ano que passou e eu sem estar contigo

Tanto que eu lutei para ser mais que um amigo

Mas tu foste embora e eu fiquei de coração partido

Na impossibilidade de vivermos este amor proibido

 

Regressei aos lugares que me fizeram apaixonar

Sentimentos numa alma em chamas que agora tento serenar

Mais uma volta, mais um pensamento do teu terno olhar

Imaginário daquele beijo que ficou por dar

 

Hoje sigo o meu caminho, sozinho

Novos trilhos envoltos em esperanças renovadas

Caneta, papel, letras trocadas em poesias reiventadas

Mas quem sou sou eu? poeta?

Não! apenas escrevo com o coração

Frases loucas propagadas em lágrimas de emoção

Talvez toque alguém!

Talvez não toque ninguém...

Meras palavras levadas pelo vento desalinhadas no meu desalento

Desatinos chorados em guitarras ou violinos

Tentando versar o verbo amar

Sonhos eloquentes de uma noite ao luar

Onde eu desejava ser o autor de história de amor...

Caos

06.11.21, MM

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Na minha tempestade eu acordei o vento

E no meio da saudade eu parei o tempo

Eternizei-o numa caixa de pandora

E sem tempo, esqueci-me de viver “o agora”

 

Despertei fúrias exorcizadas em sentimentos ocos

Perdi-me em estradas de encruzilhadas tresloucadas

Gritei aos sete ventos na terra dos loucos

Palavras atormentadas em dizeres taralhoucos

 

Desmaiei sobre a terra batida, abatida, tingida

O meu corpo, a minha alma, a minha força de viver

Deixei-me consumir pelas trevas delirantes

Desafiei todos os demónios errantes

E tudo para quê? para de novo renascer, crescer

Seguir o meu caminho, fortalecer

 

Reinvento-me a cada nova batalha

Resiliências de quem vive no fio da navalha

Mas não desisto, não esmoreço, não enlouqueço

Esperanças renovadas em águas lavadas

Onde o sol brilha afogando as trevas da dor

E nas estrelas cintilantes escreverei o nossa vitória

Meu amor...

Interagir - reflexão

01.11.21, MM

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Costumo dizer que a vida é feita de pessoas, de sentimentos, de encontros e desencontros. Não sei se há um propósito maior para cada um de nós, no entanto considero que não há pessoas insignificantes, porque na realidade, todos nós fazemos parte de algo e na maioria das vezes, nem temos consciência desse facto. Talvez para muitas instituições sejamos apenas números, meras estatísticas ou percentagem de uma qualquer projeção eleitoral. 

Quando nascemos passamos a ser mais um elemento importante, alteramos as rotinas daqueles que nos rodeiam e aos poucos vamos fazendo parte de uma comunidade, primeiro dentro de casa, depois do bairro, da escola, das coletividades, dos grupos de amigos. Muitas pessoas dizem que se forem embora ninguém dará por elas, no entanto, todos temos rotinas e interagimos de uma forma ou outra. 

Normalmente, temos um lugar de paragem obrigatória, seja no café, na bomba de combustível, no mini-mercado, num qualquer jardim. Podemos pensar que somos ínfimos,  apenas mais uma pessoa na sociedade, mas se deixarmos de frequentar aquele simples café, não só o dono deixará de ter aquela receita como pode perder vários clientes no mesmo dia, pois muitas vezes esses lugares são eleitos para aqueles encontros ao fim de tarde depois do trabalho. E numa pequena comunidade essa simples alteração pode ser fatal. Assim também são as relações humanas. Lembro quando abandonei a grande capital em nome de um sonho maior, deixei um mundo para trás. Criamos elos, criamos rotinas, criamos interações que estranhamos quando algo de diferente acontece. Por vezes somos a única pessoa a dar aquele bom dia com alegria a alguém, o porto de abrigo de alguém em desespero, o amor secreto de quem nos vê passar todos os dias mas sem coragem de o dizer.  Mesmo que sejamos o elemento mais tímido, aquele que raramente têm voz ou passa despercebido, fazemos parte desse equilíbrio, acrescentamos algo mesmo que impercetível. Quando naquele dia entrei dentro do carro para seguir a minha jornada, não quebrei apenas os elos individuais, quebrei todos os elos do grupo, deixei uma cadeira vazia, um bom dia com alegria para oferecer, provavelmente até algum coração partido. 

 

Quando cheguei ao meu destino, houve quem me recebesse de braços abertos, assim como muitos me viram como uma ameaça, criando obstáculos e tentando impedir de realizar os meus objetivos. Interferimos nos grupos de amigos existentes, criamos atritos mesmo que inconscientemente, tentamos de alguma forma marcar a nossa presença. Passamos a fazer parte de uma nova comunidade, interagindo e alterando algumas das suas rotinas. O café da esquina tem um novo lugar ocupado, o quiosque vende mais um jornal, mais um carro a abastecer, o mini mercado terá que repor stocks de novos produtos. Haverá certamente uma nova pessoa a receber um bom dia com alegria, novas amizades, mais uma pessoa sentada num banco de jardim de caderno e caneta na mão, talvez até alguém venha à janela apenas para me ver passar.

 

Quando tomamos a decisão de mudar para um outro lugar, não estamos apenas a abandonar uma localidade, estamos a criar um vazio, a quebrar elos, e muitas vezes a tirar o chão da vida de alguém.  Talvez seja esse o nosso maior egoísmo. Mas paradoxalmente, quando chegamos a um novo lugar, vamos interagir com uma nova comunidade, e de uma forma ou outra, a bem ou mal, passamos a ser parte integrante dela, e aí reside a beleza da vida, de fazer o mundo girar, realizando os nossos sonhos ou a ajudando outras pessoas a realizá-los.

 

Os sonhos conduziram-me até aqui. Os motivos que me levaram a abandonar a grande cidade hoje já não fazem sentido, da mesma forma que ainda faz menos sentido regressar. 

 

Não sei que aventuras esperam-me, que desafios ainda terei que enfrentar, que pessoas irei encontrar ou reencontrar nesta nova caminhada,  mas não me prendo a localidades, na certeza que  irei sempre para onde possa ser feliz, irei sempre para onde a minha felicidade me levar.