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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Quero um amor...

28.10.21, MM

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Quero alguém que me abrace nas noites frias de Inverno

Que me acarinhe nos dias que parecem um inferno

E nos seus mais secretos desejos eu seja o eleito

Mesmo sabendo que eu não sou perfeito

 

Não quero um amor como um café esfriado, morto, enterrado

Quero um amor bem quente, escaldante, ardente, eloquente

Pétalas perfumadas espalhadas pelo chão

Corpos desnudados dançando a mesma canção

 

Não quero acordar com alguém por acordar

Na indiferença de um corpo morto para matar a solidão

Estando junto a mim mas sonhando com outra pessoa estar

Vivendo comigo em agonia e em sofreguidão

 

Quero aquela pessoa especial que faz estremecer o coração

Que me arranque um sorriso e me faça perder o juízo

Que me faça arrebatar desejos e me cale com beijos

Que nos desejos carnais se entregue com paixão

De quem ama de alma e coração

Que eu, estarei sempre de corpo e alma sentida

Dando sempre o melhor de mim numa vida colorida

De braços abertos para o amor me entregar, amar

Desejando em conjunto a felicidade

De um amor que eu quero que seja de verdade

Momentos de solidão

23.10.21, MM

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Pressinto na brisa eletrizante a tempestade a chegar

Nuvens aglomeram-se como guerreiros desafiadores

Trespassando as altas montanhas com se fossem gladiadores

Pequenos remoinhos fazem as folhas vibrar

E as afoitas formigas correm, correm sem parar

Sabem os segredos do tempo, sabem bem o que se vai passar

E eu, contemplo o avermelhado majestoso do céu

Que em breve estará coberto do negro véu

 

A noite escurece no silêncio temerário da solidão 

Onde as brumas do deserto invadem o pensamento

Lembranças, inseguranças, o mesmo tormento

Ventos agrestes e mais um fragmento caído do coração

Relâmpagos invisíveis iluminam uma casa abandonada

Em trovões sem ecos numa alma anestesiada

Deambulando solitária e desamparada

Rosto caído, olhar no chão

Mais uma lembrança, mais um momento de solidão

 

Rangem as árvores no compasso dos ventos

Melodias sonoras nos acordes dos meus lamentos

Recordações que não passaram no crivo dos tempos

E eu aqui, recordando esses ternos momentos

Lágrimas chorosas caindo na chuva copiosamente

Reflexos de um amor proibido, escondido, latente

Afogado em mais um copo de vinho numa lareira ardente

Dormências, clarividências ou penitências

Alma perdida num corpo moribundo

Desejando parar o tempo por um segundo

Regressando ao dia em que te conheci, que em ti vivi

Mais um recordação, mais um fragmento caído do coração

Rosto caído, olhar no chão

Mais uma lembrança, mais um momento de solidão

Silêncio da noite

19.10.21, MM

silencio da noite cópia.jpg

 

Pessoas vivem alegremente de forma solitária

Trancando os sentimentos numa presidiária

Professam aos sete ventos que são independentes

Que não precisam de ninguém, que não estão carentes

 

Pessoas vivem tentando manter um casamento

Falsas aparências numa relação sem alento

Fazem-no pelos filhos que são o mais importante

O amor ardente, esse, tornou-se insignificante

 

Pessoas vivem atarefadas entre sonhos e ilusões

Enterradas em projetos e novas ambições

Sem tempo para pensar no amor

Que segundo consta, apenas trás a dor

 

Mas quando a alma envelhece e o silêncio da noite cai

Quando a cabeça aconchega a almofada e a lágrima sai

Quando a solidão trespassa em lâminas o coração

Quando finalmente percebes que já não tens chão

Em quem pensas?

No que pensas?

Vida passada que nunca foi verdadeiramente aproveitada

Lançando maldições de uma vida amargurada

Lembranças do verdadeiro amor que deixaram escapar

O amor, pois o amor…

Talvez haja pessoas que não nasceram para amar...

Desejos...

14.10.21, MM

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Gostava de te ler como um maestro lê a sua partitura

E no desnudar da tua alma, levar-te à loucura

Seguir as linhas do teu corpo como quem traça um mapa cartográfico

Invadir o teu íntimo até chamares-me de pornográfico

Corta! muda de plano, nova posição, luzes, câmara, acção!

Repetimos a cena mais uma vez, ou duas, ou três!

Na sala, no quarto, ou simplesmente no chão, que perdição!

 

Gostava de te sussurrar doces palavras ao ouvido

Com a mesma doçura que um chef prepara o seu prato preferido

Degustação, aprovação, vamos brindar?

Barman, barwoman, luzes a cintilar

E eu, perdido no teu terno olhar

Rodopiando sobre o teu corpo eloquentemente

Como um mestre em danças de salão

Exaltando no ritmo da música a sua secreta paixão

 

Gostava de ter nas minhas palavras o encantamento

E na coragem de um guerreiro convidar-te para jantar

Velas acesas, aromas que se fundem no ar

Garçom, Champanhe por favor!

Mas não sou poeta, nem tenho a subtileza de um encantador

Nem um charme de um galã de novela 

E no entanto, só desejava que fosses a minha Cinderela

Por andas tu, meu amor...

Somos pedaços de tudo, pedaços de nada

12.10.21, MM

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Somos pedaços de tudo, pedaços de nada

Forças imbatíveis da natureza caídos em terra molhada

Lamaçal, pantanal, areias movediças

Absorvendo o bem e o mal

Simbiose entre deus, homem e o animal

Força bruta emanada em pele de cristal

Guerreiros invencíveis em almas quebradiças

 

Somos corpos perfeitos suportando corações fragmentados 

Seres cósmicos vagueando em sentimentos desalentados

Almas perdidas, vencidas, escondidas em fantasias pervertidas

Satisfazendo egos em eloquências carnais

E no entanto, meros passageiros triviais

 

Professamos palavras ocas como se fossemos divindades

Néctar dos deuses projectados nas suas infidelidades

Arcamos a culpa religiosamente 

Pecadores, sedutores, sonhadores

Iludindo o templo dos grandes senhores

Prisioneiros às memórias do antigamente

 

Movemos-nos silenciosamente por entre os átomos indefinidos 

Matéria vazia projetada em universos malditos

Gritando ao mundo sons imperceptíveis

Em lamentos e murmúrios audíveis

Contradições, ilusões, maldições

Forças imbatíveis da natureza caídos em terra molhada

Somos pedaços de tudo, pedaços de nada

A carta que nunca pensei te escrever

05.10.21, MM

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Cai mais uma lágrima sobre o papel já molhado

Nesta carta que entre soluços te estou a escrever

Embalado na melodia da música que era a nossa vez

E no entanto, hoje, só queria perder a sensatez

Aparecer à janela do teu quarto apenas para te ver

Mas não posso, estás inacessível

Um amor proibido e no entanto, inesquecível

 

Foste luz na minha vida quando estava assombrada

Nuvens afugentadas com o teu sorriso iluminado

Confidente, amiga, só não foste a minha namorada

E neste limbo que foi o nosso amor

Vivido entre a luz e o pecado

Eternizado naquele nosso abraço 

Onde pude sentir um pouco do teu calor

Naquele quase beijo devasso

 

Pediste-me para parar, para te esquecer

Esquecer? Talvez isso nunca venha a acontecer

Sei que te amo, sei que me amas

Sei que gostava de contigo casar

Adormecer e acordar

Invadir-te no banho, preparar-te o jantar 

Cuidar de ti, mimar-te

Mas não vou fazer dramas

Não vou mais insistir

Chegou a hora de desistir, de te deixar partir

Na impossibilidade de contigo viver

Talvez até me venha arrepender

Mas não posso mais te prender

Adeus meu amor, despede-se o teu trovador

Esta é a carta que nunca pensei te escrever

Perdida na minha escrita

02.10.21, MM

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Perdes-te nas entrelinhas da minha escrita

Absorvendo carnalmente tudo que nela habita

Demónios projetados da minha alma vagabunda 

Que no teu íntimo penetram de forma profunda

E tu, rendida, entregas-te voluptuosamente

Aos braços de quem agarra firmemente

 

Letras que te tocam em tons silábicos 

Melodias em palavras encantadas no teu ser

Dedos mágicos provocando arrepios de prazer

E tu, perdida, 

Tentas fugir de um verso inacabado

Mas não consegues, preferes viver o pecado

Mais uma frase que agarras com firmeza,  destreza

Contorcionismos numa respiração ofegante

Já não sou poeta, sou o teu amante

Que em ti faz o abecedário todo vibrar

Palavras malditas que bem fundo as queres enterrar

Mais um pouco

Mais rápido… a soletrar

Tons agudos, tons graves, está quase a terminar

Pára,  não pares, e mais um conjunto de interjeições 

Loucuras, ternuras, corpo a estremecer

Palavras que entram e saem do centro do prazer 

Estás no auge e já não há nada a fazer

Delírios impercetíveis de sensações orgásmicas

Prenuncias sons em letras asmáticas

Até ao êxtase final, animal

Pausas no silêncio sufocante

Sossegas a respiração ofegante

Extasiada com o que acabaste de  ler

Pousas o poema serenamente

E, satizfeita, acabas por adormecer