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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Aconchego Outonal

29.09.21, MM

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Na melancolia dos dias que agora passam

Finda o entardecer sob as folhas caídas

Esvoaçando alegremente levam ternas lembranças

Embaladas nas brisas outrora quentes e que agora se esfumaçam

Terminando em delírio nas mãos das sorridentes crianças

 

As graciosas árvores perdem o seu pudor

E folha-à-folha vão ficando completamente despidas

Cenários perfeitos encantados em cores garridas

Tintas desvairadas que na tela são domadas pelo seu criador

Numa obra prima carregada de sensualidade

e no entanto, para muitos, mera promiscuidade

 

Os sinos fazem soar o recolher do sol agora envergonhado

Nas memórias permaneceram os segredos do escaldante Verão

Vivências preenchidas em noites quentes, ardentes, eloquentes

cumplicidades, leviandades, saudades, encerrando a estação

“o que lá ficou ficou” - diz quem por lá passou

E as folhas já não podem contar

E as pedras, essas sabem bem os segredos guardar

 

A noite esfria e com ela surge o aconchego outonal

Cheiro a terra molhada por vezes  virando pantanal

Estalidos anunciam as castanhas assadas

Apregoadas em ruas mal iluminadas

Onde os amantes passeiam de mãos dadas

 

Mas Outono traz a reflexão

Sentimentos eternizados numa folha escrita à mão

Palavras soltas que ganham vida naquele inusitado café

Para muitos um louco, um homem sem fé

De mãos calejadas, olhar entristecedor

e no entanto, é feliz, escreve poemas de amor

Tudo eu julguei

28.09.21, MM

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Julguei as estrelas que me amparavam nas noites sombrias

Sem saber que o faziam

Julguei a lua por me inspirava na inércia da minha escrita

Murmúrios que eu pensava que ali jaziam 

Julguei os rios por estarem tão frios

Mas eram apenas reflexos gélidos que em mim adormeciam

 

Julguei as forças cósmicas, culpei o cupido 

Setas de uma amor envenenado que cultivavam o meu jazido

Julguei as bruxas, os druidas,  as feiticeiras  

Amaldiçoado o fogo das suas fogueiras

Julguei os senhores do Olimpo e as Nereidas

Silenciando o canto hipnótico das Sereias

 

Tudo eu julguei,  tudo eu condenei

Fúria intrínseca de um ser menor

Num mar feito de lágrimas amargas

E no entanto, fui eu que errei

Não ouvi no meu íntimo o teu lamentar

Desse teu secreto desejo de ao meu lado queres estar

 

Tudo eu julguei sem poder julgar

Tudo eu julguei mas só a mim me posso condenar

Momentos perdidos na minha hesitação 

Mesmo sem saber, já era teu o meu coração 

E hoje, vagueando num mundo moribundo

És luminosidade perpetuada na mais bela recordação...

Viajo até ti

19.09.21, MM

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Viajo na tua solene melodia

Palavras que em mim ecoam em harmonia

Entranham-se no meu ser, invadem a minha alma

Prelúdios de um destino escrito na minha palma

Em caminhos tortuosos, sinuosos, tempestuosos

Demónios que na tua escrita ficam hipnotizados

 

Viajo por lugares por ti imaginados

Envolto na sensualidade de corpos suados

Gárgulas, ciclopes, ninfas, e outros seres encantados

Fogueiras e cânticos perpetuados em rituais enfeitiçados

 

Viajo pelas tuas histórias, pelo teu sofrimento

E no teu desalento vejo também o meu tormento

Talvez sejamos almas-gémeas sem saber

Destinados a viver as loucuras do momento

Ou inesperadas noites de prazer

Quem sabe? Quem o diz?

Conspirações cósmicas nascidas em nebulosas

Tecendo para nós noites amorosas

Escritas numa imortal história de amor

Viajando de mãos dadas a ver o sol de pôr

Espero-te às oito

19.09.21, MM

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Espero-te às oito

Mas queria-te de quatro

E nas minhas fantasias

Enlouquecia-te no meu quarto

Olhar atrevido e tu nem fingias

Que te desnudava sem cortesias

Roupa espalhada numa noite aluada

Corpos no cio à espera do coito

Tu libertina e eu já todo afoito

Quente, ardente, já excitada

Toque eloquente, pele arrebitada

Beijos, desejos, ensejos

Nesta ânsia louca de te tocar

Invadir, sentir, de em ti emergir

Entrar e sair

Assim, mais um pouco

Deixa-me louco

Que eu prometo levar-te a ver as estrelas

Os planetas e os cometas

Assim, de quatro

Despida no meu quarto

Corpos no cio à espera do coito

Vem, que eu espero-te às oito

E a vida passou...

12.09.21, MM

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Deixei passar as águas do rio sem nunca as abraçar

Contemplei no infinito as estrelas sem nunca as desenhar

Corri contra o vento sem nunca o atravessar

E hoje, lembro-me das sementes que me esqueci de cultivar

 

Passou por mim o tempo a correr

Desvaneceu-se no ar parte do meu ser

Lembranças perdidas em cada amanhecer

Palavras sentidas de uma boca a tremer

 

Tudo na vida eu vi passar

Passagens do tempo que no meu corpo ficaram tatuadas

Esquecimentos, alentos, sofrimentos

Alegrias, fantasias, breves arritmias

Amizades e mulheres que um dia foram amadas

Prosas, poesias e outras histórias que ficaram inacabadas

 

Degustei manjares agora insípidos

Maravilhei-me em lugares agora inóspitos

E na intimidade declinei tirar alguns vestidos 

Porque dentro de mim não batia o desejo

Nem tão pouco o ensejo

E assim continuei a vida a ver passar

E dessa vida pouco me restou

Nas memórias perpetuam o que perdi

E assim na minha vida tudo passou

Tudo, menos o meu amor por ti...

Ânsias

08.09.21, MM

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Embalo no choro amargo que me faz adormecer 

Lágrimas derramadas numa cama de infelicidade

Solidão, depressão, dor imensa no coração

Desejos reprimidos que ouso fazer acontecer

Embalados num sono profundo de ilusão

E eu, apenas querendo acordar e viver

Este amor que me avassala o coração

 

Embalo mais um pouco em soluços profundos

Pregando aos deuses que ouçam as minhas preces

Suplico ao universo para ao teu lado ter mais uns segundos

E tu? apareces e desapareces

E eu? fico na ansiedade

Desejos reprimidos guardados na saudade

Num tempo em que era o teu rei

E hoje apenas pergunto-me: onde é que eu errei?

 

Embalo no choro amargo que me faz adormecer 

Na ânsia de um novo amanhecer

De em ti renascer

Abraço as carências que me consomem

Hoje sou menino que desejava ser o teu homem

Amar-te, proteger-te, devolver-te o sorriso

E eu, apenas queria contigo perder o juízo

E é assim que eu tento adormecer

Abraçando a almofada que me faz companhia

Num secreto desejo de em ti estar em sintonia

Corpos entrelaçados em perfeita harmonia

Abraço forte sentindo o teu corpo quente, eloquente

Embrenhado num beijo de boa noite ardente

Realizando fantasias, partilhando alegrias

Aliviando a dor com laços feitos de amor

Ânsias de quem contigo deseja viver

Embalado no teu abraço até adormecer…

Penso em mim, penso em ti, penso em nós

02.09.21, MM

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Mergulho nas densas manhãs submersas

Penso em mim, penso em ti, penso em nós

Promessas trocadas em loucas conversas

Toques na alma embalando o suave adormecer

Lembranças eternizadas nos momentos a sós 

E nós, ousando um amor proibido viver

 

Sinto saudades de mim, de ti, de nós 

Secretos desejos vividos num mundo atroz 

Perdidos na infinidade do tempo latejante

Ora felicidade, ora agonia, ora saudade

Sentimentos feridos num vento cortante

Abafando o grito da minha voz

 

Alma destroçada perdida no teu encantamento

Procurando no teu olhar um pouco de alento

Sinto falta do teu sorriso embrulhado no meu olhar

Das loucas mensagem partilhadas ao luar

De sentir o teu rosto no meu tocar

Lábios próximos querendo se beijar

Fogo ardente consumindo-me eloquentemente

Esfriado no dia do teu afastamento

E eu preso a este sentimento

De amor, puro, de verdade

Ora felicidade, ora agonia, ora saudade

Lembranças eternizadas nos momentos a sós

Penso em mim, penso em ti, penso em nós