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Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

E os ventos já não sopram...

27.08.21, MM

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E os ventos já não sopram

Barcos já não vão para o mar

Velas já não são içadas

Esmorece-se na maresia o olhar

 

E os ventos já não sopram

No horizonte não há poeira no ar

Silêncios dormentes que sufocam

Almas que não conseguem acalmar

 

E os ventos já não sopram

Já não fazem o balão voar

Olhar triste de uma criança 

Perdida em sonhos de encantar

 

E os ventos já não sopram

Aprisionados em redemoinhos e furacões

Tornados transformados em ilusões

Deuses zangados, irados, atormentados

 

E os ventos já não sopram

Nem contra nem a favor

Águas paradas ardendo em fervor

Caricias que ficaram por entregar

Letras escritas num avião de papel

Declarações, paixões, e outras malícias

Escritas com tinta a saber a mel

Percorridos em caminhos proibidos

Ora esborratados, ora tingidos

Palavras sentidas perdidas no ar

Que a ti não conseguem chegar

Ficaram encalhadas junto ao mar

Reflexos de um coração sofredor

Mas os ventos já não sopram

Aguardam a tua chegada, amor!

Jantar- Frango sentado (erotismo)

24.08.21, MM

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Tudo começou com um encontro ocasional naquele supermercado, onde outrora nos tinhas encontrado tantas outras vezes. Coincidências ou destino traçado, é algo que nunca iremos descobrir. No entanto, ali estavas tu, à minha frente, sorriso rasgado e de brilho nos olhos,  com um vestidinho curto de quem tinha vindo da praia ou talvez piscina, deixando-me automaticamente hipnotizado. Percebemos facilmente que ambos íamos comprar alguma coisa rápida para uma refeição solitária. Essa agradável coincidência, foi a dica perfeita para convidar-te para jantar. Reticente, ainda começaste por hesitar, com aquele não reticente dito com palavras, mas que nos olhos e no tímido sorriso queriam dizer sim. Fizeste questão de esclarecer que era apenas um simples jantar, e no entanto, no teu olhar, deixava transparecer uma certa malícia e o desejo de algo mais. Naquele momento acontecia magia e eu tinha que tomar conta das rédeas do destino. Ainda pensei em levar comida já pronta, mas em mim fervilhava o desejo de provares os sabores degustativos que das minhas mãos mágicas conseguem transformar simples pratos, em refeições divinais. Assim esperava eu. Sem muito por onde escolher, lembrei-me de uma receita simples mas vistosa de ir ao forno, o que permitia desfrutarmos alegremente de um aperitivo enquanto o meu manjar dos deuses ficava pronto. 

Chegamos a minha casa e meti mãos à obra. Disseste firmemente que queria ajudar e perante a tua insistência acabei por concordar. No entanto coloquei-te um desafio: “o que fizeres com o frango eu vou-te fazer a ti!”

Sorriste com aquele olhar maroto tão teu, enquanto mordiscavas o lábio. No fundo sabias que daquele momento apenas podiam surgir momentos relacionados com erotismo. Conhecias-me bem demais, e mesmo assim não hesitaste em concordar.

Comecei por te dizer que a receita chamava-se “frango sentado”. Ficaste curiosa e com aquele sorriso tímido que só tu sabes fazer, estando ansiosa por seguir as minhas instruções. Pedi-te para colocar numa tigela azeite, alho, pimenta, piri-piri, sal, pimentão doce, limão, ervas aromáticas e uma pitada de gengibre, sussurrando-te ao ouvido que era afrodisíaco, e que tu fizeste questão de deitar bastante.  

Enquanto misturavas tudo, preparei as bebidas cuidadosamente decoradas, coloquei aquela música tão nossa a tocar e encostei-me a ti entregando-te o copo. Todo o meu ser estremecia ao sentir o calor do teu corpo, de ter os teus lábios tão perto dos meus. Fizemos um brinde e degustámos um pouco olhando-nos sempre nos olhos. Coloquei o braço por trás da tua cintura e puxei-te para mim, roubando-te um beijo. Respondeste arrebatando o meu fôlego num beijo intenso, apaixonado, carregado de paixão, afastando-me depois. “Vamos acabar de temperar o frango?”. “Claro que sim!” pensava eu maliciosamente nas coisas prazerosas que contigo desejava fazer. 

Querias usar o pincel, mas disse-te que o segredo era temperá-lo com as mãos. Untaste bem as mão e quando começaste a tempera-lo. Sentiste o teu pescoço a ser invadido pelos meus lábios, que o beijavam sorrateiramente causando-te arrepios e fazendo-te parar o que estavas a fazer.  Pedi-te para continuares a espalhar a mistura por todo o frango, enquanto isso, eu percorria o teu corpo conforme a zona por onde o temperavas. Percebendo isso, ias temperando-o sorrateiramente, levando as minhas mãos para os sítios onde mais desejavas seres tocada. Começaste pelo pescoço, descendo até ao teu peito e aí ficaste por momentos enquanto as minha mãos sentiam os teus mamilos extremamente excitados e a tua respiração ofegante. Dançávamos eloquentemente ao som de músicas badaladas, corpos que se entrelaçavam e se encaixavam em desejos ardentes  e enquanto isso, temperavas avidamente o frango enquanto as minhas levantavam o vestido e exploravam zonas outrora proibidas, sem nunca os meus lábios deixarem o teu pescoço, a nuca, as sensíveis orelhas ou os ardentes lábios. Sentias o volume do meu corpo encostado a ti e sorrias. Sabias que eu estava excitado e mesmo assim provocavas cada vez mais. Por fim disse-te que também o tinhas que temperar por dentro, e ao fazeres isso sentiste as minhas mãos a invadir a tua intimidade, o teu segredo, que tanto desejavas que fosse explorada. Sussurrei-te ao ouvido para continuares a temperar mas neste momento já estavas mais interessada que eu explorasse as tuas zonas sensíveis, que ao meu toque libertavas gemidos sentidos por entre contrações do teu corpo, e eu, cada vez sentia-me mais excitado e desejoso de te possuir nos meus braços, de te ter entranhado no meu corpo o teu corpo perfumado, carregado de desejos proibidos.

Já com o frango bem temperado, abri uma garrafa de cerveja e pedi-te para a colocares dentro do frango, enfiando-a por baixo até sair por cima. Estranhaste mas foste seguindo as minhas instruções. Com o frango na mão e em pé, foste inserindo lentamente a garrafa por baixo. Nessa altura estremeceste e gemeste, libertando um enorme gemido de prazer. Perguntei-te se queria que eu parasse e acabasse a receita, mas não querias que eu parasse e pediste para continuar,  enfiando a garrafa todinha nas entranhas do frango até ver o gargalo por cima, enquanto isso, gemias e contorcias-te de tanto prazer, sentindo-te possuída e desejada. Pousaste o frango e colocaste as mãos em cima da banca, inclinando-te de forma absorveres melhor o meu corpo dentro de ti. E assim ficámos por alguns momentos, apenas sentindo o corpo um do outro em beijos cada vez mais eloquentes, mais excitados. Por fim, revelei-te o grande segredo, uns ramos de salsa e colocar umas pedrinhas de sal dentro da garrafa da cerveja, altura em pudeste vir ao vivo a espuma que ela deitava, babando e temperando todo o pito à sua volta, abrindo mais o apetite.

Já com tudo preparado, pedi-te para te baixares e colocá-lo com muito jeitinho dentro do forno para o frango não desmaiar. Voltaste para mim em beijos ardentes e apaixonados, perguntaste o que íamos fazer enquanto o frango assava. Tudo em mim vibrava, o corpo, a alma, o coração, num misto de desejo de te amar e de te possuir. Afinal ainda tínhamos quase uma hora pela frente. Sem hesitar, respondi-te com muita malícia, que os aperitivos sempre foram dos meus maiores prazeres da vida, e que uma das minhas especialidades era dar à língua. Foi uma “conversa” muito interessante até o frango estar pronto!

 

“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.”

 Nota: A garrafa pode ir ao forno que não acontece nada!

Meu caminho...

23.08.21, MM

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Caminho solitário sobre as pedras que me encantam

Calçada entrelaçada que por mim foi chorada

Lágrimas doces que os meus olhos decantam

Melodias embaladas no reflexo do teu terno olhar

Ânsias eloquentes, ardentes

Aguardando aquele singelo momento dos teus lábios beijar

 

Assim passo os meus dias intermináveis

Navegando sobre sonhos de mundos admiráveis

Declamo por entre-linhas letras de poetas afamados

Palavras malditas escritas em papiros enfeitiçados

Dores austeras em sentimentos incompreendidos 

Professadas em corpos moribundos e abatidos

 

Mas faço do meu caminho solitário um destino lendário

Histórias de amor escritas a lápis de cor

Aventuras vividas sem receios de serem sentidas

Emoções gravadas em eternos corações 

Propagadas nas estrelas cintilantes

Hoje amigos, amanhã talvez amantes

E o que vão dizer? 

O que vão escrever?

Tudo! e no entanto nada de nada…

Suas vidas vão continuar 

Sem saber amar

Sem saber viver

E eu?

Continuarei no meu caminho

E tu?

Talvez aceites do meu carinho

E naquele por do sol a ver o mar

Cama de estrelas em noite de luar

Desfrutemos de um copo de vinho

Enquanto isso, sigo o meu caminho...

Amor ou amizade

16.08.21, MM

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Por vezes a amizade vira amor

Por vezes o amor vira amizade

Como distinguir um e outro 

Se ambos vivem da saudade?

 

Talvez as borboletas já não esvoacem

E o frio na barriga desapareça

Talvez os corações no ar se esfumacem

Num amor condenado à nascença

 

Linha ténue e mal delineada

Que no coração causa confusão

Sentimentos que vivem na ansiedade

Temendo acabar na solidão

Às mãos da pessoa amada

 

Amor, amizade, dor, saudade

Quem ama sente, dizem os eruditos

Mas sente o quê?

Frio na barriga? desejo ardente? paixão?

O sangue a ferver no coração?

Corpo a explodir de excitação?

E a amizade?

Ver partir e não ter com quem partilhar

Afeição, estima, dedicação

Uma mão estendida onde agarrar?

 

Por vezes o amor acaba em amizade

Por vezes na amizade nasce o amor

Talvez seja a distância o elemento revelador

Ou será o tempo que nos distingue a saudade?

 

Por vezes a amizade vira falso amor

Por vezes o amor apenas carrega amizade

Relações confusas vividas em infelicidade

Apenas sentindo a dor

De não viver um amor de verdade

 

 

Degustar

08.08.21, MM

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Embriago-me no meu copo de vinho

E na coragem tento fazer-te o fadinho

Convenci as nuvens a deixar resplandecer o luar

Implorei à maresia que te deixasse ver o mar

E sob a luz das estrelas declamei o meu amor

Em poemas versados no teu glamour

Dedicados a ti, minha princesa

Reflexo da tua essência e da tua beleza

 

Desfruto mais um pouco deste néctar da vida

Que aos deuses foi sorrateiramente surrupiado

E mesmo que fique por ti embriagado, hipnotizado

Que a nossa relação seja proibida

Viajarei contigo no meu imaginário

Fazendo da tua estrada o meu itinerário

Até aos vales encantados, sonhados

 

Talvez um dia desfrutemos juntos a ver o mar

E nas areias sedosas façamos as ondas corar

Corpos entrelaçados em beijos trocados

Melodias ofegantes ofuscando ondas gigantes

Momentos partilhados aos luar

E eu menino, seduzido pelo teu olhar

Degustando contigo um copo de vinho

Mas hoje…

Hoje desfruto sozinho...

Tela imaginada

05.08.21, MM

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Passos que dou no caminho do infinito

Seguindo as entranhas do meu instinto

Observo pálido e sereno a constante da vida

Ora apaixonada ora vivida de forma sentida

 

Sigo a luz que trespassa o meu vago olhar

Perdido nas horas que teimam em recuar

Mundo ao contrário num tempo travesso

Destino meu que nas estrelas professo

 

Vagueio entre a amarga sorte e o doce azar

Mergulhado entre o fruto proibido e o desejo de amar

Purpurinas, brilhantinas, dançantes bailarinas

Enclausuradas numa antiga caixa de música

Génios libertados numa lâmpada fundida

 

Airo a minha aura com os ventos do norte

Sigo a estrela da vida, abandono a sombra da morte

Não esmoreço, cresço e em ti ouso renascer, viver

Água, terra, fogo e ar

E tudo em mim é desejo de amar

 

Sigo viagem, liberto-me da velha bagagem

O sol brilha nos versos do meu poema amado

Caminhantes murmuram que estou apaixonado

Nas asas do vento deixo-me levar, suspirar

E ao fundo nesta minha tela pintada, imaginada

Ouço os cantantes pássaros a cochichar

Eles sabem quem é a minha amada