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(continuação...)
O nascimento de um filho é sempre um acontecimento maravilhoso, comovente, de uma beleza e sentimentos ímpares, e tudo o que aquela pai desejava, é que aquele novo ser viesse com saúde, esperando que tudo corresse bem. Tinha mais vez o privilégio de assistir ao parto.
E assim foi, e mais uma vez, aquele pais, lutaram perante todas as adversidades pelo bem estar dos seus filhos. Mas essa luta teve um preço. enquanto lutava e tentava manter a família unida, percebeu que estava a viver uma ilusão, não percebendo o afastamento da mãe dos seus filhos. A separação foi inevitável. E foi no meio desse caos que surgiu uma pessoa muito especial, que de alguma forma tornou-se um dos principais motivos deste blog.
Fazendo uma breve reflexão hoje, e olhando para trás, percebo que talvez a relação tenha sido mantida pelo desejo de dar o melhor aos filhos, numa união em prol de algo maior: o seu bem estar! Neste momento tenho a certeza que o facto de nos termos separado, foi o melhor que nos podia ter acontecido. Ambos renascemos e seguimos em frente, mais fortes, mais confiantes, continuando sempre com o mesmo foco: dar o melhor aos filhos.
Por motivos profissionais e de gestão familiar, quase sempre coube-me a tarefa de cuidar deles desde tenra idade. Cuidar deles, alimentá-los, adormece-los, todas as tarefas inerentes a quem tem filhos... Aprendi a dominar os meus medos, os meus receios, adquirindo capacidades que nunca julguei ser capaz de um dia as possuir.
Eles foram crescendo, gatinhando, aprendendo a andar e a falar e eu regressei à criança que sempre fui, ou melhor, que nunca tive oportunidade de ser, brincando com os carrinhos, às casinhas de bonecas, de inventar histórias quase todos os dias, aturando birras e choros intermináveis de quase levar à loucura. Mas nem sempre foi fácil, como se essa felicidade fizesse comichão a muitas pessoas. Enfrentei tormentas e tempestades, enfrentei a fome e a insegurança do destino, enfrentei os abutres que esperavam que eu caísse a qualquer momento. Mas eles não me conheciam, não sabiam da força que renasce em mim a cada amanhecer, não conheciam o guerreiro que há em mim.
Voltando à questão de ser pai e em particular aos estereótipos. Transportar a bolsinha cor-de-rosa da filha, brincar com casinha de bonecas no seu imaginado salão de chá, correr feito maluco, montes de palhaçadas e outras brincadeiras, eram vistas como imaturidade, algo fora dos padrões de comportamento, um mau exemplo, questionando constantemente a educação que lhes dava e da liberdade que lhes permitia. Transmiti-lhe os pilares fundamentais e invioláveis, dando-lhes margem para aprenderem a distinguirem o bem do mal, para potenciar as suas capacidades naturais, mas acima de tudo, dei-lhes espaço para serem crianças e verem-me também como um companheiro das suas brincadeiras.
Enquanto pai, sempre tentei estar presente em todos os momentos importantes, fosse nas festinhas, nos jogos e atividades desportivas. No ano passado fizemos uma viagem apenas com os três mais novos, numa aventura épica e que mudou radicalmente a minha forma de encarar a vida, mas acima de tudo a minha auto confiança! Hoje, enquanto pai/homem, faço qualquer tarefa doméstica, cuido dos filhos naturalmente, especializei-me em inventar receitas criativas de forma a que todos gostassem. Claro que muitas vezes chego a domingo à noite mais cansado que um dia de trabalho!
Mas os estereótipos de ser pai não se resumem só à relação entre pai/filho, vão muito para além disso.
Uma vez estava em conversa ao telemóvel com uma amiga (mãe) que se queixava da vida, quando passados quase 15 minutos de conversa, disse-lhe que tinha que desligar a chamada, porque tinha que tratar do jantar e dos miúdos. Ela, muito chocada, disse-me: “desculpa! mas tu não tens mulher em casa para fazer isso? Isso é tarefa dela”. Embora nessa altura ainda estivesse junto com a mãe dos meus filhos, confesso que fiquei sem saber o que dizer, porque estava sempre a queixar-se que o marido não a ajudava.
Existe a ideia que só as mulheres com filhos têm dificuldade em arranjar alguém por esse motivo, no entanto comigo aconteceu estar à conversa com uma pessoa, que demonstrava estar interessada em mim, mas quando lhe disse que também ficaria com os miúdos, disse-me rapidamente: ``Os filhos são responsabilidade da mãe! Eles têm é que ficar com ela”, deixando-me perplexo e a pensar, tanto mais que essa pessoa, também tinha filhos e queixava-se que o pai deles não os queria ver. Quem ficar comigo terá que ter consciência que eles farão parte de uma vida em conjunto, da mesma forma que darei todo o meu amor aos filhos dessa pessoa.
Claro que também acho graça quando pessoas com um/dois filhos dizem que não conseguem organizar nada, que eles são pequenos diabos: “o meu vale por os teus quatro!”. E eu rio-me, questionando se acham que os meus já vinham com um chip implantado e com instruções para serem bons meninos.
Depois ainda há aquelas pessoas que acham uma aberração ter mais que um filho ou dois, como se fosse uma questão estética, de etiqueta ou um estatuto social, do tipo: pai, mãe e filho ao meio, ou em alternativa: filho, pai, mãe, filha!
Foram algumas as vezes em que ligaram da escola a dizer algo do tipo: “depois diga à mãe para lhe vestir uma camisola azul” ou “ela que peça ajuda à mãe para a ajudar a pintar” isto quando era eu que estava em casa com eles.
Na verdade, conheço muitos pais que por vocação ou força das circunstâncias fazem de pai e de mãe, pais que fazem das tripas coração para que os filhos não sofram, pais que choram em silêncio para não demonstrar fraqueza em frente aos filhos, para não os deixar preocupados. Mas os estereótipos continuam a ver apenas a mãe com capacidade de cuidar dos filhos. Questiono-me por vezes o que a sociedade espera que um pai faça quando a mãe decide ir embora? e se falecer? É suposto um pai ter que arranjar rapidamente quem preencha esse lugar?
Confesso que andei às voltas para falar deste tema sem ferir susceptibilidades. Normalmente, como em muitos outros temas sensíveis, acabo por ignorar e seguir em frente. Mas nem sempre é possível assistir estático à quantidade de barbaridades que se ouvem em relação ao facto de ser pai.
Claro que nem todos os pais são assim… este conjunto de textos foi apenas um desabafo e o meu testemunho enquanto pai, e naturalmente, vale o que vale.
Quanto a mim, não trocaria o papel de ser pai por nada deste mundo!