Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Fragmentos de Miguel Moreno

recordações, paixões, aventuras de quem já viajou por todo o país... a vida é bela

Sentimentos escondidos

24.06.21, MM

folha cópia.jpg

 

Escrevia sem saber se me lias

Agora que sei, não sei o que escrever

Fico a olhar para a folha branca, vazia

Embriagado em ternas lembranças

De um coração carregado de esperanças

Mas são apenas reflexos da minha propria apatia

 

Vou tentar escrever nas entrelinhas do amor

Sentimentos escondidos nos veios de uma flor

Serão apenas revelados na palma da mão

A quem nas linhas da vida souber ler a minha sina

De uma paixão escondida no coração

 

E no entanto, aqui estou eu a revelar-me

Sem saber mais o que dizer

Receando a tua amizade poder perder

Amizade? Sabes que te podia devolver-te a felicidade!

Carinho, amor, atenção

Uma carícia no rosto, um beijo de verdade

Noites de louca paixão

E eu sinto que tu queres

Mas não podes… "princípios"

Ou talvez seja tudo uma ilusão

 

Talvez não me venhas ler

E se me leres não me vais dizer

E no entanto,  eu vou continuar a escrever

Nas entrelinhas do amor

Sentimentos escondidos nos veios de uma flor

Que serão apenas revelados na palma da mão

A quem nas linhas da vida souber ler a minha sina

De uma paixão escondida no coração

Perdido no teu abraço

19.06.21, MM

no teu abraço cópia.jpg

Caio desamparado

Num céu que não tem limites

Viajando num cavalo alado

Por entre nuvens esfumaçado

Feitas de estalactites e estalagmites

Magmas e lavas ardentes 

Névoas envolvidas em maresia

Gritando palavras de heresia

Numa queda carregada de harmonia

De sonhos e fantasia

Esvoaçando por entre luzes cintilantes

Que brilhando a compasso 

Invocam o templo dos amantes

Em melodias de pássaros cantantes

 

E numa queda que parece não ter fim

Envolvido em lençóis de cetim

Caio desamparado no teu abraço

Ansiando que este nó vire um laço

Mas já estou desmaiado

Vivendo num eterno pecado

Ousando o teu amor

Um pouco de teu calor

Talvez um beijo apaixonado

Que me devolva à vida, minha querida

E num último fôlego

Tento roubar-te um beijo

Neste meu secreto desejo

E tu,

Embalas-me mais um bocado

E quando tudo parece acabado

Sinto os teus lábios nos meus

Ardências, cadencias, fluorescências

Palpitações de dois corações

Batendo no mesmo compasso

Perdido no teu abraço

Meu amor...

Ser pai e os seus estereótipos - parte 4 (final)

14.06.21, MM

Ser pai e os seus esteriotipos parte 4 cópia.jpg

 

(continuação...)

O nascimento de um filho é sempre um acontecimento maravilhoso, comovente, de uma beleza e sentimentos ímpares,  e tudo o que aquela pai desejava, é que aquele novo ser viesse com saúde, esperando que tudo corresse bem. Tinha mais vez o privilégio de assistir ao parto.

E assim foi, e mais uma vez, aquele pais, lutaram perante todas as adversidades pelo bem estar dos seus filhos. Mas essa luta teve um preço. enquanto lutava e tentava manter a família unida, percebeu que estava a viver uma ilusão, não percebendo o afastamento da mãe dos seus filhos. A separação foi inevitável. E foi no meio desse caos que surgiu uma pessoa muito especial, que de alguma forma tornou-se um dos principais motivos deste blog.

Fazendo uma breve reflexão hoje, e olhando para trás, percebo que talvez a relação tenha sido mantida pelo desejo de dar o melhor aos filhos, numa união em prol de algo maior: o seu bem estar! Neste momento tenho a certeza que o facto de nos termos separado, foi o melhor que nos podia ter acontecido. Ambos renascemos e seguimos em frente, mais fortes, mais confiantes, continuando sempre com o mesmo foco: dar o melhor aos filhos.

Por motivos profissionais e de gestão familiar, quase sempre coube-me a tarefa de cuidar deles desde tenra idade. Cuidar deles, alimentá-los, adormece-los, todas as tarefas inerentes a quem tem filhos... Aprendi a dominar os meus medos, os meus receios, adquirindo capacidades que nunca julguei ser capaz de um dia as possuir.  

Eles foram crescendo, gatinhando, aprendendo a andar e a falar e eu regressei à criança que sempre fui, ou melhor, que nunca tive oportunidade de ser, brincando com os carrinhos, às casinhas de bonecas, de inventar histórias quase todos os dias, aturando birras e choros intermináveis de quase levar à loucura. Mas nem sempre foi fácil, como se essa felicidade fizesse comichão a muitas pessoas. Enfrentei tormentas e tempestades, enfrentei a fome e a insegurança do destino, enfrentei os abutres que esperavam que eu caísse a qualquer momento. Mas eles não me conheciam, não sabiam da força que renasce em mim a cada amanhecer, não conheciam o guerreiro que há em mim. 

Voltando à questão de ser pai e em particular aos estereótipos. Transportar a bolsinha cor-de-rosa da filha, brincar com casinha de bonecas no seu imaginado salão de chá, correr feito maluco, montes de palhaçadas e outras brincadeiras, eram vistas como imaturidade, algo fora dos padrões de comportamento, um mau exemplo, questionando constantemente a educação que lhes dava e da liberdade que lhes permitia. Transmiti-lhe os pilares fundamentais e invioláveis, dando-lhes margem para aprenderem a distinguirem o bem do mal, para potenciar as suas capacidades naturais, mas acima de tudo, dei-lhes espaço para serem crianças e verem-me também como um companheiro das suas brincadeiras.

Enquanto pai, sempre tentei estar presente em todos os momentos importantes, fosse nas festinhas, nos jogos e atividades desportivas. No ano passado fizemos uma viagem apenas com os três mais novos, numa aventura épica e que mudou radicalmente a minha forma de encarar a vida, mas acima de tudo a minha auto confiança! Hoje, enquanto pai/homem, faço qualquer tarefa doméstica, cuido dos filhos naturalmente, especializei-me em inventar receitas criativas de forma a que todos gostassem. Claro que muitas vezes chego a domingo à noite mais cansado que um dia de trabalho!

Mas os estereótipos de ser pai não se resumem só à relação entre pai/filho, vão muito para além disso. 

Uma vez estava em conversa ao telemóvel com uma amiga (mãe) que se queixava da vida, quando passados quase 15 minutos de conversa, disse-lhe que tinha que desligar a chamada, porque tinha que tratar do jantar e dos miúdos. Ela, muito chocada, disse-me: “desculpa! mas tu não tens mulher em casa para fazer isso? Isso é tarefa dela”. Embora nessa altura ainda estivesse junto com a mãe dos meus filhos, confesso que fiquei sem saber o que dizer, porque estava sempre a queixar-se que o marido não a ajudava.

Existe a ideia que só as mulheres com filhos têm dificuldade em arranjar alguém por esse motivo, no entanto comigo aconteceu estar à conversa com uma pessoa, que demonstrava estar interessada em mim, mas quando lhe disse que também ficaria com os miúdos, disse-me rapidamente: ``Os filhos são responsabilidade da mãe! Eles têm é que ficar com ela”, deixando-me perplexo e a pensar, tanto mais que essa pessoa, também tinha filhos e queixava-se que o pai deles não os queria ver. Quem ficar comigo terá que ter consciência que eles farão parte de uma vida em conjunto, da mesma forma que darei todo o meu amor aos filhos dessa pessoa.

Claro que também acho graça quando pessoas com um/dois filhos dizem que não conseguem organizar nada, que eles são pequenos diabos: “o meu vale por os teus quatro!”. E eu rio-me, questionando se acham que os meus já vinham com um chip implantado e com instruções para serem bons meninos. 

Depois ainda há aquelas pessoas que acham uma aberração ter mais que um filho ou dois, como se fosse uma questão estética, de etiqueta ou um estatuto social, do tipo: pai, mãe e filho ao meio, ou em alternativa: filho, pai, mãe, filha! 

Foram algumas as vezes em que ligaram da escola a dizer algo do tipo: “depois diga à mãe para lhe vestir uma camisola azul” ou “ela que peça ajuda à mãe para a ajudar a pintar” isto quando era eu que estava em casa com eles. 

Na verdade, conheço muitos pais que por vocação ou força das circunstâncias fazem de pai e de mãe, pais que fazem das tripas coração para que os filhos não sofram, pais que choram em silêncio para não demonstrar fraqueza em frente aos filhos, para não os deixar preocupados.  Mas os estereótipos continuam a ver apenas a mãe com capacidade de cuidar dos filhos. Questiono-me por vezes o que a sociedade espera que um pai faça quando a mãe decide ir embora? e se falecer? É suposto um pai ter que arranjar rapidamente quem preencha esse lugar? 

Confesso que andei às voltas para falar deste tema sem ferir susceptibilidades. Normalmente, como em muitos outros temas sensíveis, acabo por ignorar e seguir em frente. Mas nem sempre é possível assistir estático à quantidade de barbaridades que se ouvem em relação ao facto de ser pai.

Claro que nem todos os pais são assim… este conjunto de textos foi apenas um desabafo e o meu testemunho enquanto pai, e naturalmente, vale o que vale.

Quanto a mim, não trocaria o papel de ser pai por nada deste mundo!

Ser pai e os seus estereótipos - parte 3

13.06.21, MM

Ser pai e os seus esteriotipos parte 3 cópia.jpg

 

(continuação...)

Desta vez tudo foi diferente. Já não era mais um “pai de primeira viagem”. Tudo tinha sido planeado cuidadosamente. A caminha, o enxoval, a mochila para a estadia no hospital. Tudo preparado ao pormenor para a chegada de uma princesa. O parto, provocado, foi desta vez assistido pelo pai, um homem carregando um nervoso miudinho mas confiante e garantido que tudo correria bem. E naquele momento, ali estava ele, segurando aquele frágil ser, acabado de nascer, dando em plenos pulmões as boas vindas ao mundo. 

O nascimento de mais filho criava muita confusão em algumas pessoas, e como habitualmente, as opiniões mais estapafúrdias: “três filhos? dois chegavam bem!; "vocês devem andar atrás dos subsídios!"

Ser pai de menina trouxe novos desafios, acabando por adquirir uma nova sensibilidade e um novo olhar sobre as coisas. Claro que ver um pai carregar uma bolsa cor-de rosa ou brincar às bonecas em público, eram ações que não condiziam aos estereótipos da figura paternal. Curiosamente, era essa mesma sensibilidade, que tornava aquela relação tão especial, e que naturalmente era apelidada como sendo a princesa do papá! 

Enquanto a relação com os filhos estava em bom plano, já noutros campos sentia que muitas coisas não estavam bem, mas continuo a acreditar que tudo não passaria de uma fase.

O facto é que de alguma maneira isso acabou por também ajudar a abalar a estabilidade que a todo o custo carregava aos ombros, e em conjunto com a péssima conjuntura económica, acabaram ambos no desemprego. De repente, aquele pai, com três filhos, viu o mundo a desmoronar-se. Lentamente assistiu ao afastamento dos coleguinhas dos filhos que já não os convidavam para as festinhas, viu as portas fecharem-se a cada nova tentativa de resolver as coisas. Foi certamente o período mais complicado vivido por aquele pai, vivido em noites de angustias, de medos de perder o que considerava o mais sagrado, a sua família. Apesar de tudo, de todas as dificuldades, os seus filhos continuavam a ser alunos exemplares, crianças meigas e que compreendiam a situação em que estavam. E foi muito graças ao amor dos seus filhos que  esse pai nunca desistiu de tentar, frequentando todas as formações financiadas que conseguia, negociando cada dívida que surgia, mas acima de tudo, tentando manter a estrutura familiar inabalável, apesar de sentir os abutres a rondar, à espera que falhasse, desejando que surgisse um momento de fraqueza para desferirem o golpe fatal. Pequenas mas importantes ajudas foram surgindo e é  no meio desse caos que surge a notícia. Para muitos pessoas, podia ser uma terrível notícia, mas para aquele pai era sempre uma notícia maravilhosa! Vinha mais uma menina a caminho!

(continua...)

 

Ser pai e os seus estereótipos - parte 2

13.06.21, MM

Ser pai e os seus esteriotipos parte 2 cópia.jpg

(continuação...)

Surgiu de surpresa, num jantar de amigos, o anúncio da chegada da hora de colocar no mundo uma nova vida... Vários sentimentos foram aqueles que assolaram aquele pai naquele preciso momento, desde o desejo de ter um filho nos braços ao receio que alguma coisa pudesse correr mal. E nesse dia, em dia de comemorações desportivas, a viagem até ao hospital foi uma verdadeira aventura. Aquela mãe assim que chegou no hospital, entrou logo em trabalho de parto e quando a enfermeira o questionou se queria assistir, o pai ficou atónito, sem saber o que dizer ou o que fazer, num misto de emoções que viajaram pelo seu pensamento numa velocidade vertiginosa e no entanto, não conseguiu proferir uma única palavra. Naqueles breves segundos, enquanto ganhava coragem para assistir ao parto, este já tinha acontecido. Um pequenino rapaz chorando a plenos pulmões, esperneando e agarrando a mão do pai como quem agarra a vida, e no entanto, parecia tão frágil, tão delicado. Quando lhe pediram para o segurar ao colo, o seu enorme receio não permitiam que o segurasse corretamente, devolvendo-o logo à mãe. Um mundo completamente novo abriu-se perante si, sem certezas se estaria à altura daquele enorme desafio.

Numa altura em que o espectro do desemprego assolou aquela família, tiveram de viver com extremas dificuldades. Muitas pessoas viraram as costas, quer amigos, quer familiares, acabando entregues a si mesmos. Vários foram os comentários depreciativos: "põem-se a fazer meninos e agora quero ver como vão cuidar deles”; “cá para mim fez o filho para te prender”; “ bem, este pelo menos já é teu”; “então mas ela não tomava a pílula? grande azar”; “ela vai trabalhar e tu é que vais cuidar deles? isso não está correto”.

Com apenas a mãe a trabalhar, coube ao pai cuidar dos filhos. Sem os seus amigos que estavam longe, sem a sua família, apenas com muito amor para dar e o constante duvidar das suas capacidades para cuidar de um rapaz e de um recém-nascido. Aprendeu a cozinhar comidas básicas, encontrou coragem para os banhos, a higiene, a alimentação, a educação daqueles que dependiam de si. Felizmente foram surgindo “anjos”, pessoas quase anónimas que iam ajudando da forma que podiam. Entretanto, um problema com a inscrição do filho mais velho na escola, fez com que tivesse que ir para uma outra mais distante, acabando dessa forma por ter de ir morar para casa de um familiar, uma decisão que abalou aquele pai, sentindo-se impotente e incapaz perante aquela situação. Mas um triste acontecimento fez com que recebesse uma pequena herança, permitindo equilibrar as coisas. A primeira decisão foi mudarem-se para uma nova casa, voltando a ter consigo os dois filhos. 

Com os dois a trabalhar e numa vida mais ou menos estável, a mãe decidiu que queria estudar à noite. E embora aquele pai lhe desse todo o apoio, mais uma vez entrou em pânico. Agora além de cuidar dos filhos, teria desta feita também a importante missão de os adormecer, aprendendo a contar histórias, muitas delas inventadas, ou brincando com eles até à exaustão. Uma enorme cumplicidade entre pai e filhos cimentava-se de dia para dia, numa união cada vez mais forte, tornando-se um porto de abrigo para as lutas diárias daquele pai. Corriam, jogavam à bola, rebolavam pela relva, tudo isso perante o olhar de desdém, de quem acha isso um comportamento inaceitável e que um pai não se deve expor a tais figuras.

Durante algum tempo as coisas corriam aparentemente bem, embora interiormente havia coisas que não faziam muito sentido, mas a correria do dia-a-dia não permitia grandes reflexões, e depois de um trauma de uma aborto espontâneo, decidiram tentar ter uma menina. E passado algum tempo lá surgiu a grande novidade. Iriam ter uma menina, a menina do papá!

Ser pai e os seus estereótipos - parte 1

12.06.21, MM

Ser pai e os seus esteriotipos cópia.jpg

 

Era uma vez um pai… ou melhor, reza a lenda que em tempos, nos subúrbios da grande cidade, habitava um jovem introvertido e sem grandes ambições. Ainda hoje há relatos, passados de boca em boca, que afirmam que esse jovem não tinha a pretensão de um dia ser pai e que só o facto de proferir essa (proibida) palavra (filhos), já lhe causava urticária. O que ele não sabia era que o que a vida lhe tinha destinado.

Os amores e desamores foram surgindo assim como as grandes desilusões,  mas isso, ficará certamente para uma outra narrativa. O desejo de emancipação levou-o a focar-se no mercado de trabalho, numa busca quase incessante de ser melhor, de dar o seu melhor. No entanto, o vazio invadia o seu coração na incompreensão de um amor complicado.  

Os caminhos da vida levaram-no a interessar-se por uma pessoa que conhecera anos antes, um amor de verão. Mas na altura em retomaram a comunicação, essa jovem tinha duas pequenas particularidades. A primeira é que morava extremamente longe e a segunda é que já tinha um “herdeiro” com quase dois anos. 

Desencantado com o meio que o viu crescer, decidiu abraçar essa nova aventura, trocando uma vida estável por um sonho, que julgava ele, ser o sonho da sua vida! É fiável dizer-se, que de uma certa forma acabou por ser, afinal ser pai é um dos sonhos mais lindos que se pode ter na vida! Sem experiência e sem nunca ter sentido o chamamento da paternidade, ter uma criança nos braços tornou-se uma verdadeira aventura. Mas ele estava determinado e decidido a amar aquela criança como seu legítimo filho, com todo o amor que um pai pode dar. Naturalmente tinha consciência que com 2 anos houve muitas etapas de aprendizagem que tinham ficado para trás, mas outras estariam para vir. Essa criança, que não tinha uma figura paternal, rapidamente o adotou como sendo o seu pai. Tornaram grandes amigos, vivendo grandes aventuras. 

Mas nem tudo foi fácil. Para dizer a verdade foi extremamente complicado devido aos estereótipos. Quando abandonou a grande cidade e a sua vida estável, foram muitas as críticas, as opiniões negativas, os profetas das desgraças. Proferiram então, quase em tom de gozo, expressões como:  “vais abandonar a capital?”; “onde fica mesmo o lugar para onde vais morar?”; “arranjaste alguém com um filho?”; “vais cuidar de um filho que não é teu?”; “olha que ela só está interessada que cuides do filho dela e às tantas ainda quer o teu dinheiro”, ou então: “ele vai cansar-se disto aqui depressa”; “não tarda está a voltar de onde veio”; “Ele veio da grande cidade… hum… deve ter deixado lá alguém e veio fugido!”

Seguiram-se momentos complicados e mais dissabores. Muitas vezes sentia-se um homem só numa terra estranha. Outras tantas vezes pensou em regressar, mas aquela criança já tinha conquistado o seu coração. E foi no meio de um período conturbado que soube que ia  ser novamente pai e desta vez, teria a oportunidade de assistir às primeiras etapas de um filho.

(continua...)

Deserto

10.06.21, MM

MM deserto cópia.jpg

Espero e eternizo

Por um momento bravio

Onde rosas florescem num deserto tardio 

Nuvens refletem a tua imagem

Mas nas quentes areias tudo é uma miragem

 

Tenho sede, mas a água escorre em mim

Suores frios que não consigo conter

E na quimera do tempo

Apenas te consigo ver

Neste deserto que me avassala

Dilúvios, prelúdios, infortúnios

Marcas passadas, marcas presentes 

Almas amadas, almas dormentes

Que futuro neste deserto?

Sina nas areias lançadas

Onde tudo é tão incerto

Fúrias de chamas aclamadas

Oh deusas do além-mar!

Oh musas que partiram sem avisar!

Oh ninfas, oh ninfas! 

Mas nem o Xamã vem-me salvar...

E eu continuo

Caminhando sobre um oásis dourado

Gárgulas estendem-me a passadeira

Mas sei que o caminho está agourado

O hipnótico canto surge duma alcoviteira

Mais uma miragem, mais uma quimera

Neste deserto onde me perdi

Nesta vida onde vivo sem ti...

Um momento perdido

08.06.21, MM

momento perdido 2 cópia.jpg

 

Só queria uma oportunidade

Nem que fosse um momento perdido

Eternizava esse momento

Para que jamais fosse esquecido

 

Vagueava sob a tua pele nua

Nesse momento perdido 

E nesse momento perdido

Levava-te até à lua

Beijava-te de cima a baixo

Voltando lentamente a subir

Onde eloquentemente fazia-te sentir

O prazer que no teu corpo eu encaixo

Física quântica

Frases asmáticas

Química perfeita 

Que na tua geografia encaixa 

E mais um vai-vem

Mais uma viagem à lua

Êxtase meu de te contemplar nua

Neste momento perdido

Ao som de mais um gemido

O grande "oh" está para breve

Fluidos que não conseguimos controlar

Estou dentro de ti e tu em mim

Desejo que por ti tenho

Prazer que em ti me venho

gemidos sentidos, gritos infinitos

Corpos extasiados, maravilhados

perdidos num último movimento, alento

Doce loucura, suave ternura

E eu exausto vejo-te adormecer, desaparecer

Neste momento perdido

Que no tempo o eternizo...

Rio

06.06.21, MM

rio.jpg

Rio…

Que nos silêncios das tuas águas lês os meus pensamentos

Que conheces os meus segredos e tormentos

Que desnudas a minha alma dormente

Sabedora do meu amor eloquente

E no entanto

Quando te pergunto, porquê?

Remetes-te ao silêncio profundo

Murmurando, conspirando, ignorando o meu mundo

O meu sofrimento, o meu lamento.

 

As águas onde chorei já passaram

Já vão distantes

Retidas nas recordações dos amantes

Em que apenas as memórias ficaram...

Mas és rio, majestoso, corres apressado para o mar

Transportas memórias de amores impossíveis

De palavras que nunca foram audíveis

Também outras lágrimas em ti caíram

De amores que um dia acaram

Outros tantos que nunca surgiram

E tu?

Assistes indiferente à passagem do tempo

A quem a ti confessou o seu lamento

Mas sabes, rio!

Eu conheço o teu curso, por onde vais passar

E a mensagem que em ti deixei

Um dia alguém a poderá encontrar!

Convite

06.06.21, MM

convite jantar 1 cópia.jpg

 

E se esta noite te convidasse para jantar?

Sim, a ti que me lês em segredo

Que não te revelas por timidez ou por medo

Se hoje te dedicasse este poema 

E cuidar de ti passasse a ser o meu lema

Se do teu nó conseguisse fazer um laço

Talvez te envolvesses no aconchego do meu abraço!

Ou oferecer-te uma flor, passearmos pelo jardim

Uma carícia, suave em toque de cetim

Talvez um beijo de surpresa

E com um sorriso eliminasse a tua tristeza

Poderia levar-te a ver as ondas do mar

E nos segredos que ele esconde 

Ouvisses o meu coração a palpitar

 

E se esta noite te convidasse para jantar

Aromas degustativos, olhares lascivos

Vinho embriagado em cálices cintilantes

Perfume encantado em velas hipnotizantes

Sons ecoados nos murmúrios dos amantes

E por fim, de cálices em punho

Exaltando o néctar dos deuses

Braços entrelaçados, olhares corados

Um brinde!

Um brinde à amizade, ou ao amor!

Será que está a ficar calor?