Fragmentos de Miguel Moreno

Memórias perdidas no outro tempo... um tempo em que havia tempo para tudo mas urgência em vive-lo rapidamente, intensamente, em que chegar à fase adulta era quase sinonimo estereotipado de que o tempo seria apenas para a casa, para a família... de um certo prisma isso acaba por acontecer... hoje vejo tempo fugir-me das mão na sub-carga que os encargos me obrigam... mas quando tenho tempo... quando me liberto de todas as amarras, de todas as responsabilidades...  nessa altura tento desfrutar desse momento tão único, tão especial, querendo eternizá-lo no tempo e no espaço... já não tenho mais urgência em querer viver tudo... tenho necessidade de absorver cada momento único que o tempo me proporciona... não, não quero que o tempo volte para trás, nunca quis, quero viver o presente... pausadamente...

Memórias de outro tempo

Todas as noite me parecem iguais

E já mesmo as estrelas me parecem banais

A magia que dantes a noite me trazia

Hoje é apenas mais uma noite fria

Nevoeiro misturado com maresia

Não… a noite não me é boa conselheira

Não me traz a transparência de pensamentos

Nem ecoa o teu nome quando grito aos quatro ventos

Não… a noite já não é filha de feiticeira

Já não me perco nos seus encantos

Já nem me iludo com os seus prantos

Não… a noite já não é casamenteira

É mentirosa e trapaceira

Já não é o meu porto de abrigo

E paradoxalmente era nela queria era estar contigo

Aquela noite em que deixava de ser um simples amigo...

Poesia X - Musa de Inspiração

Entre o querer e o não querer

Entre ficar ou partir

Entre o insistir e o desistir 

Entre o conquistar ou perder

Ambiguidades perpetuadas em antíteses 

Parcos discernimentos entre a razão e o coração 

Tumultos numa alma pouco sóbria

Perdido em palavras vagas escondendo a solidão 

Em caminhos travessos numa luta sem glória

Insistir, desistir, persistir, partir

Que importa? que interessa?

Afinal onde vou com tanta pressa?

O ocaso já aconteceu, o sol já desapareceu…

Em breve o sono e eu em plena vigília

Insónias em mais uma noite sombria

De um desejo que não morreu

De um sonho que não padeceu

Desejando que também fosse teu…

Insistir, desistir, persistir, partir...

Poesia IX - Musa de Inspiração

Meu Amor,

Não sei sequer por onde começar…

Queria escrever-te os mais belos versos de amor

Pegar na viola, fazer-te uma serenata, ser o teu trovador

Declamar palavras oriundas do fundo do meu coração

Abri-lo, torná-lo transparente, para que pudesses ver

Que é este lindo sentimento que faz ele bater

Que és a minha musa, minha música, minha paixão…

Perco-me no teu singelo sorriso que me faz perder o juízo

Escuto atentamente cada palavra saída da tua boca, deixando a minha louca

Com vontade dos teus lábios beijar, de te amar…

Imagino-nos a correr pelos campos, de mãos dadas, almas aladas

Pararmos o universo por meros instantes

Olhar nos teus olhos profundamente

E no silêncio das palavras dizer-te eloquentemente

“amo-te”

Este é o sonho que nunca vivi

Esta é a carta que nunca te escrevi

Do sempre teu,

Miguel Moreno

Poesia VIIi - Musa de Inspiração

E se esta noite te deixasses enfeitiçar pela lua

Libertasses a tua alma, o teu corpo, o teu ser

E sorrateiramente no meu quarto surgisses nua

Atiçada por uma noite de intenso prazer

Qual loba enfeitiçada pelo luar

Qual fera que no seu íntimo deseja despoletar

Esta paixão ardente de por as estrelas a corar

Desperta, liberta-te, vem-me possuir

Sou teu, és minha, quero te sentir

Estás enfeitiçada… não podemos fugir

A este nosso destino travesso, virado do avesso

Que nos faz viver, estremecer, enlouquecer

E que se lixem as más línguas

Essas que nem sequer ousam... fazer

Vem esta noite… a noite está linda

Ou talvez seja apenas o teu reflexo

Neste nosso enredo complexo

Tecido à margem das leis do universo

Para muitos um desejo perverso

Para mim apenas a felicidade

Mergulhada nesta minha ansiedade

De te ter, de no teu corpo me prender…

Leva-me à lua, provoca-me até o juízo perder…

Poesia VII - Musa de Inspiração